Duas pesquisas divulgadas na semana passada mostram que a aprovação do governo Lula caiu, a reprovação aumentou e o brasileiro está menos otimista com o futuro. Vamos começar com os números:
Na pesquisa Genial/Quaest, a aprovação caiu de 54% para 51% e a reprovação subiu de 43% para 46%. No Ipec, a aprovação à forma de Lula governar oscilou de 51% para 49% e a desaprovação de 43% para 45%. Nas duas pesquisas, é o pior resultado do governo desde o início do mandato.
No caso da Quaest, a queda está relacionada ao movimento dos eleitores evangélicos. A rejeição a Lula no segmento foi de 46% em agosto para 56% em dezembro e 62% nesta pesquisa de março. Historicamente resistentes a Lula e ao PT, os evangélicos pioraram suas opiniões sobre o governo depois das declarações de Lula contra Israel. 60% dos brasileiros consideram “exagerada” a comparação feita por Lula de Israel com Hitler. Entre os evangélicos, 69% criticaram a declaração.
A Quaest identificou ainda um mau humor com a economia, já detectada na pesquisa do Ipespe para a Febraban, divulgada depois do Carnaval. No último mês, 41% sentiram aumento nos combustíveis, 63% acharam que as contas subiram e 73% reclamaram da alta de preços nos alimentos. Pela primeira vez neste mandato, a maioria dos brasileiros (38%) acha que a economia piorou nos últimos 12 meses, enquanto só 26% acham que melhorou.
Olhando por partes, é possível ao governo Lula não apertar o botão de pânico. A derrocada na popularidade foi detectada em segmentos que tradicionalmente não são petistas e os índices gerais são sólidos. Em tempos de polarização extrema, existem raros governos no mundo com maioria de aprovação. Como os preços de alimentos vão cair a partir deste mês com o início da colheita, um rearranjo na comunicação do presidente seria suficiente para estancar a queda.
A política brasileira, no entanto, não permite soluções simples, nem ingênuas.
O problema do governo Lula é mais grave que uma alta sazonal de preços ou uma declaração estapafúrdia. Para muitos brasileiros, o governo efetivamente não parece ser bom o suficiente. Segundo a Quest, 34% dos brasileiros acham que o governo Lula é pior do que esperavam e somente 27% dizem que superou as expectativas.
O futuro também não parece animador. No Ipec, 43% acham que o governo está no caminho certo e 50% que está no caminho errado. 51% dizem que desconfiam de Lula e só 45% confiam no presidente.
A solução simples e ingênua seria culpar a comunicação. A complexa é entender que a oposição se reorganizou a partir do ato de Jair Bolsonaro em fevereiro em São Paulo e que o governo Lula precisa de uma agenda mais forte.
A manifestação bolsonarista mostrou que o poder de mobilização do ex-presidente segue intacto, apesar da possibilidade real de uma prisão. Mais importante: como Bolsonaro está fora da disputa de 2026, o ato deu partida à preparação de uma campanha que reúna as grandes forças antipetistas (evangélicos, agro, empresários, extrema direita) através de um nome que não tenha a mesma rejeição que Bolsonaro. Se mantiver a base hard core bolsonarista sem a rejeição pessoal do ex-presidente, a candidatura da direita em 2026 fica extremamente viável.
Por último, mas não menos importante, há a própria responsabilidade de Lula. A sua lógica “não quero ministros com ideias novas” foi positiva para impedir a multiplicação de iniciativas estrambólicas, mas tornou o governo uma reedição de programas antigos. Em 15 meses, as únicas novidades foram as renegociações de dívidas (o programa Desenrola) e a poupança para estudantes de ensino médio (o programa pé-de-meia). É muito pouco.
O ministério deste terceiro mandato não apenas é pouco criativo. Ele não tem unidade. Cada ministro trabalha para a sua base política ou seu partido. Não existe uma estratégia unificadora a não ser o interesse de todos de permanecer nos seus cargos.
A preferência de Lula pela agenda externa pode lhe dar satisfação pessoal, mas é um desastre na política doméstica. É humano ao cidadão Luiz Inácio Lula da Silva se compadecer com a matança em Gaza, mas o presidente precisa mostrar a mesma comiseração com os flagelados do Acre (sem comparar as duas situações de gravidades distintas). Lula é o único grande político brasileiro que pode falar da miséria e suas tragédias a partir da experiência pessoal. Sua solidariedade nesses momentos não é falsa, é de quem já esteve na mesma situação da vítima. Afastar a agenda de Lula dos brasileiros mais pobres tem um custo até na expectativa que os eleitores fazem do seu governo. E é esta comparação entre expectativa e realidade que pode decidir a eleição de 2026.