A distância entre o cercadinho do Palácio da Alvorada, em Brasília, onde o presidente Jair Bolsonaro conversa com seus acólitos, e o prédio das Nações Unidas, em Nova York, ultrapassa os 6.800 quilômetros. O avião presidencial não tem capacidade para um voo direto e é preciso uma parada de reabastecimento, o que faz a viagem beirar as dez horas duração. Um segundo avião sempre acompanha a aeronave presidencial e é precedida por uma missão que escolhe os hotéis e os trajetos ao longo da visita. É uma honra para o presidente brasileiro participar com o primeiro pronunciamento na abertura da Assembleia Geral da ONU, mas é um custo que ultrapassa os US$ 500 mil (nunca saberemos o valore real no governo Bolsonaro porque todos os gastos presidenciais são qualificados como secretos).
Todo esse tempo e dinheiro poderia ter sido economizado. O discurso de Jair Bolsonaro na manhã desta terça-feira (21/09) na ONU não pretendia mostrar a postura brasileira para o mundo, mas apenas falar com os eleitores bolsonaristas empedernidos. Bolsonaro saiu do cercadinho, mas o cercadinho não saiu de Bolsonaro.
No discurso falsificou números de redução do desmatamento na Amazônia, inventou uma recuperação econômica que só existe na sua cabeça e de Paulo Guedes, defendeu o tratamento médico criminoso responsável pelas mortes de milhares de pessoas por Covid, rejeitou a criação de um passaporte para vacinados, louvou as manifestações pró-ditadura do Sete de Setembro e culpou a imprensa e a oposição por exporem as suas fraquezas. Como tudo em Bolsonaro, sempre poderia ter sido pior, mas ao menos poderia ter economizado a viagem.