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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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A volta do lulômetro

Confronto de Lula com mercado financeiro é tática para agradar eleitorado

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 19 jan 2023, 15h12 - Publicado em 19 jan 2023, 15h09

Governar é escolher adversários. Depois de uma campanha demonizando Arthur Lira, Lula da Silva logo que eleito ordenou ao PT que apoiasse a reeleição do presidente da Câmara e disse publicamente que seu governo depende mais do Congresso do que o contrário. A mídia corporativa, que vive às turras com o PT desde sempre, está sendo tratada com profissionalismo. As Forças Armadas, mesmo depois da postura ambígua na Intentona do 8 de janeiro, têm no ministro da Defesa um amigo dos militares. Adversários mesmo, Lula escolheu dois: Jair Bolsonaro, por motivos óbvios, e o mercado financeiro.

A primeira entrevista exclusiva de Lula como presidente, concedida na terça-feira à repórter Natuza Nery, da Globonews, pode ser repartida em duas. Nos primeiros 40 minutos, o presidente foi incisivo ao defender a democracia, a punição aos vândalos de 8 de janeiro e urgência da despolitização das Forças Armadas. Acertou no tom.

Ao falar sobre a economia, Lula piorou uma relação que já vinha ruim há meses. Além de defender a alteração da meta da inflação, Lula minimizou a importância da independência do Banco Central, disse mais uma vez disse que os gastos públicos de saúde e educação não devem ser considerados “gastos”, reclamou dos gastos públicos com juros e que a sua função como presidente é fazer o país crescer e a população recuperar o poder de compra e não cumprir metas fiscais. É a retórica de quem quer o confronto com o mercado.

Lula sabe o que está fazendo. Ele foi eleito com uma agenda de mais gastos sociais, depois de seis anos de ministros da Fazenda liberais. O seu feeling lhe diz que ele precisa mostrar à sociedade, e especialmente aos seus 60 milhões de eleitores, que ele irá mudar a direção do governo para os mais pobres e que não há risco de um estelionato eleitoral, como Dilma Rousseff foi acusada em 2016. Ao atacar o mercado, Lula não está falando com o mercado. Está falando com a sua base.

Politicamente é uma tática compreensível, mas economicamente é um risco brutal. Lula ainda está acostumado ao mercado dos tempos em que era presidente. Era uma bolsa de valores dependendo do investidor estrangeiro e das um punhado de poucas companhias, quase todas estatais ou com participação do BNDES no Conselho de Administração. Naquela época, meia dúzia de telefonemas do presidente do BC aos donos de bancos era capaz de mudar o rumo do índice. Hoje o valor movimentado na Bolsa é três vezes maior, o papel dos estrangeiros diminuiu, as fintechs comeram o protagonismo dos bancos e existem mais de 4 milhões de investidores individuais. Em 2010, o presidente – qualquer presidente – podia fazer um discurso político que a repercussão duraria poucas horas. Isso mudou.

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Desde que Lula assumiu e passou a fazer discursos semanais para enfrentar a pressão do mercado para priorizar o regime fiscal, os juros cobrados para a rolagem da dívida pública com vencimento para janeiro de 2025 subiram 2 pontos percentuais. Como se sabe, dívidas públicas não são pagas, mas roladas. As falas de Lula aumentaram o custo desta rolagem.

Fazer isso seria pouco recomendável em tempos normais, mas é mais grave em 2023. A economia está desacelerando e o PIB deve ficar abaixo de 1% neste ano. A inflação não vai cair e os juros da taxa Selic que Lula critica tanto vão continuar e dois dígitos. A debacle das Americanas vai apertar o crédito dos bancos à iniciativa privada. Já é um cenário ruim em condições normais que piora com a retórica de Lula.

Lula tem experiência em confronto com o mercado. Na sua vitória de 2002, quando o seu programa econômico era um ponto de interrogação, um analista do banco de investimentos Goldman Sachs chamado Daniel Tenengauzer criou o “Lulômetro”, um modelo matemático que tentava antecipar quanto a cotação do dólar subiria em relação ao real a cada ponto que Lula subisse nas pesquisas. O Lolômetro começou em maio de 2002 com o dólar R $ 2,52. No e no relatório para clientes, o analista previa que em caso de uma vitória de Lula, o dólar chegaria a R$ 3,04 –uma alta de 20,6% em cinco meses. A realidade foi mais dura. Ao final da eleição, o dólar estava em R $ 3,82. Lula assumiu numa crise gigante e teve de se submeter a uma política econômica ortodoxa por dois anos até iniciar os seus programas sociais.

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