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Thomas Traumann

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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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A síndrome do flanelinha

Gabriel Galípolo está tendo de pagar antecipadamente por uma boa vontade com o mercado sem nenhuma garantia de retorno

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 2 set 2024, 07h27 - Publicado em 2 set 2024, 07h26
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  • "A função do BC é ser o chato na festa", diz diretor de Política Monetária
    Gabriel Galípolo, indicado para a presidência do Banco Central // (Lula Marques/Agência Brasil)

    Todo mundo que já foi de carro a um show ou jogo de futebol conhece a sensação de ser cercado por um flanelinha na hora de estacionar perto do estádio. O sujeito se oferece para cuidar do carro enquanto você está fora, mas está implícito uma ameaça na negociação: se ele não for pago antecipadamente, é provável que ao voltar você encontre a lataria do carro riscada ou o pneu murcho. O pagamento antecipado envolve confiar na ética do flanelinha. Ele pode pegar o dinheiro e sumir, e o carro ser roubado. Não existe serviço de atendimento ao consumidor no mundo dos flanelinhas.

    O futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, vive essa mesma síndrome multiplicada por um milhão. Se ele faz um discurso mais leve sobre os juros, a Faria Lima o ameaça com uma pressão sobre o dólar. Se dá uma entrevista mais dura sobre os juros, a reação no PT é de que ele está se vendendo ao mercado. Se fala demais, o atual presidente Roberto Campos Neto faz questão de pontuar publicamente que ele ainda está no comando. Se modula seu discurso com o de Campos Neto, o mercado o chama de fraco.

    Como o dono de carro nas imediações do estádio do Palmeiras, seu time de coração, Galípolo está tendo de pagar antecipadamente por uma boa vontade com o mercado sem nenhuma garantia de retorno. Nas últimas três semanas, Galípolo deu quase vinte palestras e entrevistas nos quais reforçou a sua preocupação com a inflação, num recado ao mercado de que a sua gestão não será leniente.

    Na sexta-feira, a diretoria de Galípolo fez as primeiras intervenções no mercado de câmbio livre desde 2022, forçada por um vencimento de US$ 2 bilhões no rebalanceamento do índice EWZ (MSCI Brasil ETF), que passará a incluir mais empresas como Nubank, Inter, XP, PagSeguro e Stone. Os US$ 1,5 bilhão oferecidos pelo BC foram consumidos em minutos. Mesmo com a intervenção, o dólar subiu 0,5 ponto percentual e no mesmo dia, em palestra na XP, Campos Neto admitiu que “se for preciso fazer mais intervenções, assim faremos”. Foi um sinal de fraqueza desnecessário. Nesta segunda-feira, o BC fará um novo leilão.

    Galípolo, que já está sob teste pela sua política monetária, agora também sofrerá pressão pela política cambial.

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    A indicação de Galípolo levou a uma sexta-feira única na história, em que Lula foi mais hawkish do que Campos Neto. Em entrevista, Lula da Silva afirmou que “se um dia o Galípolo falar para mim que tem que aumentar os juros, ótimo. Se tiver que baixar, baixa. Mas tem que ter explicação”. Foi a mais explícita declaração de Lula de apoio à autonomia do BC.

    Uma hora depois, Campos Neto foi bem mais suave: “Se e quando houver um ciclo de ajuste nos juros, esse ciclo será gradual”, empurrando as apostas para o próximo Copom para uma alta de 0,25%, e não de 0,5% como algumas corretoras imaginavam.

    Se o Copom dos dias 17 e 18 de fato subir pelo índice menor, não faltará quem culpe Galípolo. É um risco. Ninguém mandou ir para o estádio de carro.

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