Mais de 300 mil pessoas foram às ruas no sábado para protestar contra Bolsonaro no sábado quando o país chegou na marca oficial de 500 mil mortos por Covid-19. Foram as maiores manifestações populares desde o impeachment de Dilma Rousseff em 2016. Na cidade de São Paulo, o protesto antibolsonaro levou 15 vezes mais pessoas às ruas do que o passeio de motocicletas promovido pelo presidente uma semana antes. Nas redes sociais, também houve goleada. Pesquisa da DAPP-FGV registrou 6 milhões de posts no twitter sobre as mortes da Covid ao longo da semana. O condomínio bolsonarista foi reduzido a 20%.
No sábado à noite, em editorial o Jornal Nacional traçou uma marca divisória sobre a cobertura sobre as ameaças de Bolsonaro, sem citá-lo nominalmente: “Tudo tem vários ângulos e todos devem ser sempre acolhidos para discussão. Mas há exceções. Quando estão em perigo coisas tão importantes como o direito à saúde, por exemplo. Ou o direito de viver numa democracia. Em casos assim, não há dois lados”. A reação de Bolsonaro foi destratar a repórter de uma afiliada da Globo se dizendo ser um alvo de “canalhas”. O presidente não fez nenhuma menção de respeito às vítimas da Covid.
Na segunda-feira (21), a cantora Anitta e o ex-BBB Gil do Vigor defenderam o impeachment de Bolsonaro em suas redes socais, rompendo o cuidado que cerca as figuras públicas. com temas políticos.
A CPI da Covid, que apesar das vaidades conseguiu provar que o presidente foi negligente na encomenda de vacinas, começa nesta semana a investigar os lucros dos laboratórios dos remédios recomendados por Bolsonaro para o combate à Covid. A charlatanice do presidente garantiu a venda de mais de R$ 200 milhões de remédios de laboratórios que, não por coincidência, pertencem a empresários que apoiam o presidente. A linha principal da CPI é descobrir se o lucro chegou à família Bolsonaro.
As possibilidades de um impeachment de Bolsonaro são nulas, mas o clima no País está mudando. Acostumado a intimidação com método, o bolsonarismo está se sentindo acuado.
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“La Dictadura Perfecta” (A Ditadura Perfeita) é um filme mexicano de 2014 que conta como uma grande emissora de TV vende serviços de assessoria de comunicação para melhorar a imagem de um governador filmado recebendo propina. Para superar a sucessão de escândalos dos políticos (quase todos contratam a TV para se proteger), a tática é produzir um outro problema ainda maior, desviando a atenção do público. Assim, as frases racistas do presidente são eclipsadas pelo vídeo do governador corrompido e o atentando a um opositor some do telejornal quando ocorre um sequestro de crianças. O esquema é batizado de “caixa chinesa”, que traz dentro uma outra caixa, que esconde outra caixa e assim sucessivamente (o filme está em exibição na Netflix).
A comédia mexicana é sobre as relações do ex-presidente Enrique Penã Nieto com a rede Televisa, mas poderia ser sobre Jair Bolsonaro, a coleção de veículos amigos e a poderosa milícia digital.
O Brasil perdeu 500 mil pessoas para a Covid-19, a vacinação é falha e lenta, o desemprego é o maior da história, a miséria aumentou, a inflação bate em 8% em doze meses, o Ministério do Meio Ambiente é investigado por corrupção, o filho do presidente é investigado por corrupção, o Ministério da Saúde é investigado por corrupção….
É raro achar um indicar de qualidade de vida que tenha melhora desde a posse de Bolsonaro, mas no discurso do governo a culpa é sempre dos outros. Este é um governo que não se responsabiliza, que distribui culpa para outros e que como os personagens do filme mexicano, vive de produzir caixas chinesas.
A Covid matou 500 mil brasileiros? Ah, o número está superestimado e muitos morreram por se recusar a fazer o tratamento precoce.
Bolsonaro recusou dezenas de vezes a encomendar vacinas? Mas ofereceu tratamento precoce em todos os postos, e hoje o Brasil é dos líderes em número total de vacinados.
O tratamento precoce não funciona? Mas há estudos que dizem que funciona, além do mais a tia do meu cunhado em Rancho Queimado…
Bolsonaro ameaça a democracia? Ora, quem está restringindo o poder do presidente são os ministros do Supremo.
O Brasil está com desemprego recorde? A culpa é de prefeitos e governadores que reduziram o horário de funcionamento das empresas.
A inflação é a mais alta desde 2015? Mas qual a culpa do presidente se os alimentos subiram tanto.
Os juros subiram? O índice da Bolsa de Valores está batendo recordes.
Em breve, o Brasil chegará a 600 mil mortos, depois 700 mil… Pode faltar energia e com certeza a conta de luz ficará mais cara. O reajuste vai impactar na inflação, aumentar os juros e atrasar a retomada. E ao invés de governar, Bolsonaro vai arranjar algumas caixas chinesas para desviar a atenção.