‘Um Lugar ao Sol’ perde força com ‘Cauã tóxico’ e tristeza constante
Novela da Rede Globo patina em audiência com trama que, apesar de bem escrita, perde pontos pela falta de humor e de um protagonista que cause empatia

Há duas semanas no ar, a nova novela das 9 da rede Globo, Um Lugar ao Sol, vem amargando uma audiência sofrível. Abaixo do Jornal Nacional no horário nobre — algo raro para o produto que é carro-chefe da emissora —, o folhetim registrou a pior audiência de uma estreia na faixa. A trama assinada por Lícia Manzo é bem escrita e ágil, elementos que tentam competir com a abundante quantidade de séries por aí. Mas o buraco que vem puxando Um Lugar ao Sol é mais embaixo.
Um dos dilemas da trama é a melancolia sem fim, que vai da fotografia de tonalidade azulada e poucos contrastes até os constantes pepinos pelo qual passa o protagonista Christian, o irmão pobre interpretado por Cauã Reymond. Os personagens da novela e, consequentemente, os espectadores não têm um dia de paz e alegria. Na trama, Christian e Christopher (depois Renato) são irmãos gêmeos que acabam separado quando apenas o segundo é adotado. O primeiro cresce com privações constantes advindas da pobreza, o outro cresce mimado e sem noção pelos excessos da nova família rica. Quando finalmente se encontram, Renato é assassinado — e Christian assume a vida boa e também a namorada do irmão, Bárbara (Alinne Morais).
A falta de uma pitada de humor entre tantas reviravoltas tristes é algo que prejudica Um Lugar ao Sol. Apesar do melodrama ser o cerne das novelas do horário nobre, um núcleo mais leve ou um personagem engraçado, responsável por ser o alívio cômico, são elementos básicos para equilibrar a trama. Afinal, novelas originalmente foram feitas para distrair. O espectador de Um Lugar ao Sol tem encontrado esse alívio, veja bem, na internet, onde Christian e Renato são conhecidos como o “Cauã pobre” e o “Cauã rico” — ambos classificados como chatos pela audiência.
A terceira faceta de Renato/Christian foi apelidada de “Cauã tóxico”. Renato despreza Bárbara, com quem se casou interessado em conquistar uma carreira na empresa do sogro (vivido por José de Abreu). Ele some quando ela mais precisa, a trata com frieza e diz com frequência que a moça é quem está louca por não confiar nele. O auge de tantas grosserias foi quando o filho do casal morre no parto. Bárbara sofre, mas o tal mocinho mal esboça reações. Em vez de consolar a moça, ele pega o carro e vai atrás de seu antigo amor, com quem iria se casar quando era apenas o “Cauã pobre”. E assim Um Lugar ao Sol faz o que parecia impossível: o simpático e popular Cauã Reymond, seja pobre ou rico, se tornou alguém difícil de gostar.