Quando o casal Mike e Julie Scully entrou para o quadro de produtores executivos de Os Simpsons, no começo dos anos 1990, o grande aparato tecnológico que tinha o poder de reunir a família na mesma medida que causava intrigas era a televisão — tanto que a imagem que simboliza a série é o grupo reunido no sofá, diante do aparelho. Hoje, trinta anos depois, a dinâmica familiar foi alterada pela profusão de novas tecnologias. O modo atualizado de se relacionar dentro de casa pauta Duncanville, nova série animada de Mike e Julie, em parceria com a comediante Amy Poehler, que estreia nesta segunda-feira, 31, às 21h30, no FOX Channel, mesmo canal de Os Simpsons.
“Temos cinco filhos, então sabemos que o jeito de ser pai nunca muda – a vergonha que causamos nos filhos, a preocupação –, mas a tecnologia mudou as famílias, especialmente a dinâmica, e usamos isso no roteiro da série”, conta Mike em entrevista a VEJA. “Quando eu era adolescente, por exemplo, ninguém se importava sobre onde eu estava durante o dia inteiro. Hoje, os pais estão mais participativos. Eles também estão mais obcecados por acompanhar os filhos, saber onde estão através de aplicativos de celular, saber o que pensam pelas redes sociais. A mesa de jantar foi tomada por aparelhos como smartphones e tablets.”
Na trama, Ducan é um garoto de 15 anos que divide a casa com os pais e duas irmãs mais novas. Ele é apaixonado por uma jovem de espírito contestador, envolvida em várias causas, e anda com três amigos desajustados. A ideia nasceu quando Mike e Julie trabalharam com Amy Poehler na sitcom Parks and Recreation, entre 2009 e 2012. “Queríamos fazer uma animação que fosse diferente do que havia no momento para adultos. Menos ácida que Family Guy, mas mais contemporâneo que Os Simpsons”, diz Mike. Na versão original em inglês, Amy faz a voz tanto de Duncan quanto da mãe. “É engraçado vê-la brigando consigo mesma”, diz Julie.
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Clique e AssineDuncanville chega à TV em um momento bem diferente de quando os disfuncionais Simpsons estrearam, em 1989, não só no que diz respeito aos avanços tecnológicos, mas também quando o assunto é a popularidade de animações feitas para adultos, ou que caminham sobre o muro que separa as faixas etárias. São exemplos a ácida e ótima Bojack Horseman, sobre um cavalo ex-estrela da TV em decadência; a nacional Super Drags, sobre drag queens desbocadas e com superpoderes, que protegem a comunidade LGBT — ambas da Netflix —; até o pop Hora de Aventura, da Cartoon Network, que atingiu o feito de conquistar baixinhos e grandinhos. A atual quantidade de títulos do tipo também foi levada em conta pela dupla de Duncanville. “O streaming abriu uma porta que fez a TV reagir, com criações mais elaboradas. O humor precisou evoluir, ficando mais afiado”, diz Jully
Com uma segunda temporada em produção, os dois produtores veteranos da TV enfrentam um desafio inédito: abordar a pandemia em uma série de comédia. “Não há nada de engraçado no mundo que vivemos hoje. Não podemos rir da tragédia. Mas queremos achar um ângulo, pois não podemos fingir que nada disso aconteceu. Se conseguirmos ajudar alguém a rir em meio ao caos, já terá valido a pena”, conta Mike. A próxima leva de episódios está prevista para 2021.
Confira abaixo trecho do primeiro episódio de Duncaville: