Os bastidores do assalto à la ‘Casa de Papel’ que chocou o Brasil
Documentário da Netflix reconstrói o roubo de mais de 160 milhões de reais do Banco Central de Fortaleza, que teve planejamento cinematográfico

Em agosto de 2005, a sede do Banco Central em Fortaleza, no Ceará, foi palco de um assalto que marcou a história dos grandes crimes no país. Na ocasião, mais de 160 milhões de reais foram levados pelos bandidos — quantia que foi medida por seu peso: cerca de 3,5 toneladas em dinheiro vivo. Com toques surreais que remetem à série espanhola La Casa de Papel, o assalto foi realizado de forma engenhosa: os criminosos chegaram ao cofre da instituição por meio de um túnel com 75 metros de comprimento. A história é relatada na série documental 3 Tonelada$: Assalto ao Banco Central, lançada nessa quarta-feira, 16, pela Netflix.
Para colocar a produção de pé, a Netflix não apenas recolheu depoimentos inéditos de investigadores e criminosos, como também colocou a mão na massa (e no bolso): a produção reproduziu o túnel engenhoso em uma passagem subterrânea de um galpão em Embu das Artes, São Paulo, baseando-se em fotos da perícia cedidas pela Polícia Federal. A reprodução da estrutura durou cerca de 15 dias, com uma equipe de sete pessoas trabalhando. Também foi reproduzida a sala usada pelos bandidos e as notas de 50 reais no modelo antigo. No total, a encenação do assalto usou 106 figurantes.
O que mais chama a atenção na obra, porém, é o tamanho da estrutura disposta pelos bandidos na ocasião, que fizeram da ação um roteiro cinematográfico por si só. Para dar o pontapé inicial no plano, a quadrilha abriu uma empresa de grama sintética de fachada próxima ao banco, e trabalhava em turnos de até sete pessoas na escavação, usando pás de jardineiro. Para não levantar suspeitas, eles mantinham um bom relacionamento com os vizinhos, e chegaram a distribuir bonés estampados com o nome da empresa laranja em uma boate. Enquanto isso, equipavam o túnel de 75 metros com sistema de ventilação, iluminação e linha para interfone, já que telefone deixaria rastros.
No total, 34 pessoas participaram do assalto, que durou cerca de 11 horas. Do dinheiro subtraído do banco, 6 milhões de reais foram escondidos em carros zero em um caminhão cegonha, e o restante distribuído entre os assaltantes, que partiram para as mais diversas regiões do país com documentos falsos. Um deles, inclusive, Fernando Carvalho, adotou o codinome Fernando Vinícius de Moraes — nome do famoso poeta modernista. Depois do furto, o envolvimento aumentou: estima-se que mais de 160 pessoas tenham trabalhado na lavagem de dinheiro do roubo nos anos seguintes. Ao todo, 129 pessoas foram indiciadas, e as condenações em primeira instância somadas chegam a 2.452 anos de prisão.
Assista ao trailer: