Luciano Huck foi surpreendido durante o Rio2C nesta quarta-feira, 5, quando uma ativista indígena do povo Tupinambás de Olivença invadiu o palco de um painel da Globo para fazer um grande apelo ao apresentador. O apelo era em nome dos povos indígenas e até parecia parte do evento, entretanto, segundo a assessoria da emissora no evento, nada foi combinado. A indígena, que não se apresentou, aguardou pacientemente Luciano Huck, o diretor executivo da Globo e Estúdios Globo Amauri Soares e Manuel Belmar, diretor de produtos digitais e canais pagos da emissora, terminarem de falar de algumas das produções e novidades que a empresa pretende entregar neste ano. Entre os destaques, o trio falou de como a Globo está engajada em dar espaço para minorias no audiovisual, principalmente para pessoas negras como na série O Jogo que Mudou a História, que contará com 70% do elenco negro.
“Luciano, por favor, é Dia do Meio Ambiente hoje. Eu sou Tupinambás de Olivença. Oito anos atrás eu fui demitida grávida, e você e sua mulher [Angélica] mandaram um quarto pra minha filha. E pouco depois eu fui posta para fora da casa e perdi meu esposo, assassinado. Eu Tupinambás de Olivença, o primeiro povo que teve contato. Vocês falaram de muitos aqui, e eu fiquei torcendo muito para que vocês falassem de nós, povos indígenas”, começou ela.
“Eu tenho a primeira agência de marketing digital social formada por mulheres indígenas, mas o meu convite [para o Rio2C] eu tive que correr atrás, porque ninguém sabe da minha história. Mas não é a minha história, é a história de 1% que são os indígenas hoje, mas nós somos os donos dessa terra, e nós não queremos invadir nem tomar terra de ninguém. Então, Luciano, eu quero te agradecer pelo que aconteceu oito anos atrás, quando você nos ajudou e pediu que a gente não falasse, mas aquela mulher desesperada, que foi demitida grávida e não sabia o que fazer, era uma mulher indígena, do povo Tupinambás de Olivença, o último povo a ser reconhecido e hoje tá trazendo o primeiro artefato repatriado indígena, que é o manto Tupinambá. O meu povo merece respeito”, continuou. “Não é porque a gente não tem o estereótipo indígena do Norte, que nós do Nordeste e do segundo estado que mais tem indígenas nesse país não merecemos o olhar da Globo e do Luciano Huck. E aí, Luciano, eu te pergunto, o povo Tupinambás de Olivença te pergunta: o que você tem a favor da gente e se você pode entrar nessa causa com a gente, a gente precisa de você”, concluiu a ativista.
Em resposta, Luciano Huck avisou que quem passou o microfone para a ativista falar foi Amauri Soares, que, segundo o apresentador, comanda a Globo. “Eu acho que o que aconteceu aqui é muito simbólico. Nesse palco, quem te entregou o microfone e reconheceu a sua voz foi quem toca a TV Globo hoje e sua voz será sempre ouvida, pode ter certeza, do fundo do meu coração, olhando no seu olho. Em nome da TV Globo, os povos indígenas originários são e serão respeitados, ouvidos e tendo sua voz reconhecida, então obrigado por compartilhar com a gente”, prometeu o titular do Domingão com Huck.
Logo em seguida, a mulher entregou um livro de presente para Huck, e Amauri Soares se pronunciou. “Tudo que a gente falar e fizer é pouco perto da enorme reparação que nós temos que fazer como sociedade em relação ao seu povo, que é o nosso povo no final das contas, mas é pouco. Mas eu queria dizer que nós temos muito orgulho de estarmos há dois anos parando toda nossa programação em uma noite do ano para exibir o Falas da Terra, que é um conteúdo totalmente criado e produzido totalmente por criadores indígenas. Por causa do Falas da Terra nós conseguimos ter contato com criadores de televisão indígenas que hoje estão contribuindo e produzindo outros conteúdos pra gente. E desses filmes que eu falei que a gente vai entregar um [novo filme] por mês, um tá sendo escrito por um autor indígena e é uma visão indígena do Brasil de hoje. Nós estamos abertos, interessados e queremos andar junto com vocês. E assim será”, finalizou Soares.
O momento foi encerrado com aplausos da plateia e gritos de um outro ativista indígena: “Nunca mais um Brasil sem nós”.
VEJA apurou que a ativista em questão é Jennyffer Bransfor, que fundou a agência BN Digital ao lado de Naiá Tupinambá.