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Lucas Paraizo fala de nova temporada de Os Outros: “Violência cínica”

Em entrevista a VEJA, autor da série do Globoplay explica mudanças na trama sobre famílias em guerra no Rio de Janeiro

Por Kelly Miyashiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 5 set 2024, 19h00
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  • Quando decidiu escrever uma nova temporada de Os Outros, Lucas Paraizo tinha em mente que queria mudar o ambiente mostrado na primeira. Enquanto no começo da história o público viu Cibele (Adriana Esteves) e Wando (Milhem Cortaz) em pé de guerra após seus filhos adolescentes terem uma briga na quadra do condomínio de prédios de classe média na Barra da Tijuca, na nova fase o drama ganha tons ainda mais sombrios em um outro condomínio, agora de casas luxuosas, mas no mesmo bairro, e com o miliciano Sérgio (Eduardo Sterblitch) causando novos conflitos com a vizinha Raquel (Leticia Colin). Em entrevista a VEJA, o autor detalhou suas escolhas para a nova fase da série do Globoplay.

    Confira a entrevista completa:

    Depois dos acontecimentos da primeira temporada, qual história você quis contar agora nessa nova fase de Os Outros? Os Outros continua sendo uma história sobre a intolerância, que existe em múltiplos espaços. Quando a gente muda de condomínio é um pouco para mostrar isso, para marcar uma certa diferença em relação à primeira temporada. Eu fiquei muito tempo fazendo Sob Pressão, uma série que se passava sempre dentro de um hospital, o que é um limitador. Teria sido mais fácil talvez ficar no mesmo condomínio, mas, falando com a diretora da série, Luísa Lima, nós entendemos que a intolerância estava em outros espaços, por isso a ideia de fazer uma nova temporada em um novo condomínio. E também ficamos de responder a pergunta ‘Onde está Marcinho?’, deixada no final da primeira. Então agora vamos responder essa pergunta, continua sendo uma série sobre a Cibele e o Marcinho, sobre a maternidade, mas a gente também amplia com a introdução da Raquel, personagem da Leticia Colin, que também tem uma relação com maternidade, de outro ponto de vista. 

    Um dos personagens da série, o Sérgio (Eduardo Sterblitch), é um miliciano que terminou preso na primeira temporada, mas agora começa dando a volta por cima, eleito vereador no Rio de Janeiro. Vocês quis ilustrar o Brasil da impunidade com ele? Eu acho que a impunidade vem carregada por uma outra questão, que também tá em outras instâncias e em outros personagens, que é o perdão. A ideia do Perdão como algo obrigatório, porque a gente tem a obrigação de perdoar mas sem entender o porquê. Então ele é revelador, salvador, e eu acho que é a questão do perdão está em várias personagens. E também estamos passando por essa seara do porquê quem deveria estar condenado parece estar perdoado. Mas tratamos do perdão através de vários personagens, como a própria Cibele, a Raquel – que é a primeira a falar para perdoar, mas o que significa perdoar?

    Como a religião da Raquel impacta a história de Os OutrosA gente vive num país que está se transformando cada vez mais em um país cristão, de valores cristãos, e isso sem nenhum julgamento. Isso é um fato. Acontece que muitas vezes a representação desses personagens têm sido um pouco superficiais, com poucas camadas, pouca complexidade, então eu quis trazer uma personagem religiosa para mostrar um universo de uma maneira diferente. Uma coisa importante sobre a Raquel é que a religião não vem na frente de outras características. Ela é uma mulher casada, quer ter um filho e também é religiosa. Isso para mim traz uma tridimensionalidade para o personagem. É importante dizer que em nenhum momento a gente fala a palavra evangélica, deixamos para que o público nomeie e veja o quão complexo seria se ela fosse de qualquer religião. A gente quer falar de fé, que traz o perdão atrás.

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    A série também ilustra como cada pessoa tem a sua própria régua moral para julgar os outros o tempo todo, certo? Sim, todo mundo julga o tempo todo. Quando fazemos uma obra de representação, o que a gente tá falando é sobre colocar um pouco as nossas fraturas de maneira evidente, para que o público seja provocado a repensar. ‘Será que eu preciso julgar tanto, será que o julgamento que eu faço está certo?’. 

    Na primeira temporada, a violência é mais física. Agora, na segunda, ela é mais sutil. Seria um sinal de que estamos mais acostumados com a violência? Eu acho que na primeira temporada a violência era mais explícita, e nessa segunda a gente queria falar de uma violência mais psicológica, mais cínica de um certo sentido. E mudamos o dispositivo, antes tínhamos uma história que partia de uma briga física entre dois meninos, agora temos uma discussão territorial. Mas aqui quisemos apostar em mais viradas, mergulhar na ideia do absurdo, usar uma lupa de aumento sobre vaidade e tudo mais.

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