Aos 8 anos, Leandra já acompanhava a mãe, Ângela Leal, nas gravações de filmes, novelas e até em ensaios de peças de teatro. Durante a finalização de Pantanal (1990), da extinta Rede Manchete, Ângela, intérprete de Maria Bruaca, sugeriu que usassem a filha em cena. Assim, Leandra Leal estreou na TV como Maria Marruá Inocêncio, a herdeira do casal de mocinhos Jove (Marcos Winter) e Juma (Cristiana Oliveira), da trama escrita por Benedito Ruy Barbosa. “Me lembro de já ter uma noção de que aquilo era uma novela, porque fazia muito sucesso na época, mas não era como se fosse algo sério: parecia uma brincadeira”, contou Leandra em entrevista a VEJA. Aos 11 anos, a menina perdeu o pai, o advogado Júlio Braz, vítima de um infarto. Antes da tragédia, ele a levava a um curso de teatro na Casa de Cultura Laura Alvim, no Rio de Janeiro, local onde sua mãe pôde ver o nascimento de uma estrelinha. “Na sua primeira apresentação, ela estava no centro de um palco escuro. Quando acenderam as luzes, olhou fixamente para a plateia com uma intensidade que eu me arrepiei toda”, relata Ângela. “Ali eu entendi que ela era uma atriz. E que bom que seguiu carreira, porque Leandra não buscou a fama, e sim as histórias e a arte”, completa a veterana, orgulhosa da rebenta.
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Hoje, aos 41, Leandra Leal é um rosto familiar (e querido) do público brasileiro. Com papéis que vão da comédia ao drama, como a “empreguete” Rosário de Cheias de Charme (2012) ou a ativista ambiental de Aruanas, a atriz de presença marcante agora celebra a volta de Kellen, gerente de sauna promovida a cafetina que movimenta a trama de Justiça 2, série de Manuela Dias no Globoplay que disseca as mazelas da sociedade e as falhas do sistema judicial brasileiro. As histórias da nova temporada são diferentes da primeira, exibida em 2016, e Leandra é a única a reprisar sua personagem, que ganha tons maternais ao cuidar de suas funcionárias — prostitutas que atuam sob uma agência de viagens de fachada. “A série discute o sentido de justiça, mas principalmente como as pessoas reagem diante de uma injustiça. O curioso para mim é como o público abraça minha personagem, que é tão imoral”, divaga a atriz. “A Kellen tem uma espécie de senso prático sobre as coisas que eu adoro. Foi um charme tê-la na história anos depois do lançamento de Justiça, com uma parceria de longa data”, enaltece a autora Manuela Dias.
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Forjada nos palcos do Rio, Leandra passa longe do tipo de artista que se contenta em estar apenas na frente das câmeras. Em 2010, ela se juntou às amigas Carol Benjamin e Rita Toledo para fundar sua própria produtora audiovisual, a Daza Filmes, focada em projetos provocativos, como o documentário sobre transformistas Divinas Divas, produção que marcou a estreia da atriz na direção. Empreitada mais recente da produtora e com um tanto de inspiração pessoal, A Vida pela Frente, outra série do Globoplay, discutiu temas sensíveis à juventude da virada do século XXI. Ambientada em 1999, a trama fala dos problemas de saúde mental num período de expectativa pela virada do milênio, quando a internet ainda engatinhava. “Minha geração passou por muitas questões que não entendia bem. Daí surgiu a vontade de falar daquele período”, afirma Leandra.
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Nos bastidores, a estrela é conhecida por outra forma de atuação: o engajamento em pautas ligadas à esquerda, como a defesa do setor cultural, tendo sido uma das vozes mais ativas contra os ataques à classe no governo Bolsonaro. Uma militância firme, mas que Leandra pontua de um jeito leve, sem cobrar quem não o faz. “Eu procuro me informar e dialogar, porque a democracia é importante, então eu defendo o direito de cada um fazer o que quer. Inclusive, não opinar”, diz. “Creio que agora estamos vendo a cultura de um ponto de vista estratégico, como fomentadora do desenvolvimento e da economia”, prega.
Grávida de cinco meses de seu segundo filho, fruto do relacionamento com o fotógrafo Guilherme Burgos, Leandra também é mãe de Julia, 9, a quem adotou com o ex-marido Alê Youssef. Filha única de Ângela, ela ainda quer adotar mais uma criança, pois sempre desejou ter irmãos. Em breve, estrelará um filme em que contracena com a mãe, projeto nascido na pandemia. “Quero eternizar a relação com ela no cinema. Sinto que me alimento dos trabalhos autorais que posso fazer”, diz. Eis um talento incansável — e que esbanja conteúdo.
Publicado em VEJA de 12 de abril de 2024, edição nº 2888