No início dos anos 2000, o restaurante Pure Food and Wine era um dos mais badalados de Nova York. Fundado em 2004 pelo casal de chefs Sarma Melngailis e Matthew Kenney, o local oferecia uma experiência singular: um cardápio inteiramente vegano e crudívoro – quer dizer, baseado apenas em alimentos vegetais crus. Vendido como o epíteto da vida saudável, o restaurante era o queridinho de celebridades como Anne Hathaway, Alec Baldwin e o casal Tom Brady e Gisele Bundchen, que transitavam pelos corredores com frequência. Anos depois, porém, foi palco de uma das derrocadas mais bizarras da cidade, transposta para as telas no documentário De Rainha do Veganismo a Foragida, lançado na Netflix na última semana. Como denuncia o título, Sarma Melngailis foi do céu ao inferno em uma reviravolta cinematográfica: afogada em dívidas após comprar a parte do ex-namorado, ela começou um relacionamento virtual com um sujeito que se dizia “não humano”, prometia reviver suas finanças e, de quebra, transformar ela e seu cachorro em imortais. Suas únicas conquistas, no entanto, foram quatro meses na cadeia e cerca de 6 milhões de dólares surrupiados de acionistas, funcionários e até da própria mãe.
A história toda, quem diria, começou com o intermédio acidental de Alec Baldwin, que recentemente voltou aos holofotes depois de atirar e matar acidentalmente uma diretora de fotografia no set do filme Rust. Cliente fiel do Pure Food and Wine, Baldwin era querido no estabelecimento, e acabou se aproximando de Sarma, que nutria por ele um amor proibido, segundo relata ela própria no documentário. O sentimento, porém, nunca passou disso e Alec acabou conhecendo sua própria esposa no restaurante. Desiludida com a situação, Sarma começou a se corresponder virtualmente com Shane Fox, um homem que interagia constantemente com Baldwin no Twitter. Os dois engataram um romance, e Shane foi ao encontro de Sarma em Nova York para se casarem. Daí em diante, tudo começou a degringolar. Os funcionários do restaurante descobriram que Fox, na verdade, se chamava Anthony Strangis, mas Sarma não se importou com a revelação. Em vez disso, forneceu ao homem tudo o que ele precisava: relata ela que Strangis fazia parte de uma seita chama “Família”, e prometeu a ela dinheiro e imortalidade. Para isso, porém, ela teria que passar por uma série de testes, incluindo dar a ele dinheiro e se tornar uma péssima chefe.
Com o restaurante sob o controle de Strangis, os funcionários deixaram de receber pagamento, e qualquer um que se opusesse à situação era sumariamente demitido. Sarma, enquanto isso, transferia dinheiro da conta do restaurante para a do marido, que chegou a convencer até a sogra a dar a ele 500 000 dólares. Com dívidas de investidores e funcionários se acumulando, os trabalhadores do Pure Food and Wine foram às ruas protestar contra a situação, o que acabou dando ao caso uma visibilidade notável. Com o restaurante à beira da falência e a reputação arruinada, Sarma desapareceu de Nova York em 2015, junto de Strangis. Os dois se tornaram foragidos da Justiça. A história ainda teve um toque de ironia: o casal foi preso em maio de 2016 em um motel no Tennessee, após serem denunciados pela compra de uma pizza da Domino’s, rede de fast food que contraria todo o estilo de vida saudável com o qual Sarma se consagrou. No ano seguinte, em 2017, ela se declarou culpada por furto e fraude fiscal, e cumpriu quatro meses no presídio de Riker Island, enquanto o marido passou um ano preso. Livre, Sarma se divorciou e alega, até hoje, que foi envolta em um “feitiço” lançado pelas manipulações de Strangis. Haja bizarrice.
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