‘BBB’: números provam que Brasil é país mais viciado no programa
Em duas décadas de exibição, mesmo a pior edição do programa marcou índices de audiência imbatíveis nos 70 países onde reality é exibido
Quando a primeira edição do Big Brother Brasil chegou às telas da Globo, em janeiro de 2002, o mundo era um lugar bem diferente do que é hoje. Três apresentadores, 22 edições e 20 anos depois, o reality não sai da boca do povo e é, de longe, o mais longevo a ser transmitido no país. É culpa do brasileiro, que adora ver bobagens e comportamentos trash na TV? Não é bem assim. Desde que foi lançada na Holanda, em 1999, a franquia com nome inspirado no clássico distópico 1984, de George Orwell, foi reproduzida em mais de 70 países, da Alemanha à África do Sul, ultrapassando as 500 edições no mundo. Como se vê, o ser humano de qualquer latitude e cultura tem um fraco por acompanhar a vida alheia. Mas há de se reconhecer: são raros os lugares que levam a atração tão a sério quanto o Brasil.
No quesito audiência, saímos na frente com folga. Em 2021, cerca de 40 milhões de pessoas assistiram à atração diariamente, o equivalente a quase um quinto da população brasileira – o número foi o melhor desde 2012. Mas a média de 27,3 pontos da edição passada passou longe do recorde do BBB 5, até hoje o mais visto da história, com 47 pontos no ibope. Mesmo o fracassado BBB 19, que amargou a pior audiência das duas décadas de exibição, com 20,4 pontos, ainda é um sucesso para os padrões internacionais. A título de comparação, os Estados Unidos são o único país que fica à frente do Brasil em número de edições tradicionais – foram 23 contra as 22 nacionais. Mas tem como recorde de audiência a primeira edição do programa, de 2000, que atingiu “meros” 9 milhões de telespectadores. A versão alemã, famosa por edições que já duraram um ano inteiro (o horror, o horror) e por sempre repercutir mundo afora, fechou 2020 com 890 000 telespectadores diários.
Parte da audiência estrondosa do BBB se deve ao “fator Globo”, a mania enraizada na cultura nacional de deixar a televisão ligada na emissora da família Marinho, independentemente da programação. É verdade que, em dezembro de 2021, a emissora registrou sua pior média diária de ibope da história, com 10,11 pontos – mas o número ainda é maior que a soma dos outros nove canais do Top 10 do ranking nacional. Colabora ainda o fato de Big Brother ser transmitido logo após a novela das 9, herdando os telespectadores do folhetim, historicamente o carro-chefe da TV brasileira.
Outro fator que parece colaborar para o sucesso do BBB é o alto pendor voluntarista do público brasileiro, que adora interagir coletivamente na TV. Na edição de 2020, o paredão entre Felipe Prior – que acabou eliminado -, Manu Gavassi e Mari Gonzalez recebeu mais de 1,5 bilhão de votos, e entrou para o livro dos recordes como a maior votação de um programa televisivo em todo o mundo, superando a marca de 416 milhões conquistada na mesma edição – antes do BBB nacional, a maior votação pertencia à final da 11ª temporada do American Idol, que teve pouco mais de 132 milhões de votos dos americanos.
Isso se reflete também na internet: ao longo da edição passada, foram registradas mais de 1 bilhão de interações relacionadas ao programa nas redes sociais. No Twitter, é como se houvesse uma edição paralela: com o pay per view liberado para qualquer assinante do Globoplay, sem a necessidade de um pacote específico para o BBB, milhares de usuários se revezam para acompanhar a casa 24 horas por dia, compartilhando nas redes vídeos e threads informativos sobre o que acontece no programa. “Quando o Big Brother Brasil vai ao ar, todo mundo assiste à mesma coisa, e pode comentar sobre isso, algo como o que acontece em uma Copa do Mundo ou nas Olimpíadas”, comparou ao jornal Global Times Laurens Drillich, presidente na America Latina da Endemol, produtora holandesa que criou o formato. A Copa e o BBB, inclusive, são os dois líderes da publicidade da Globo este ano, e devem render aos cofres da emissora cifras bilionárias. Até quem torce o nariz precisa reconhecer que é um fenômeno – e que não se verá livre daquele festival de hedonismo grotesco tão cedo.