Ao contrário das demais plataformas de streaming, que logo encontram nos esportes ao vivo uma boa aposta para atrair assinantes, a Netflix se manteve arredia à ideia de adotar tal tipo de transmissão. Em meados de 2022, Ted Sarandos, co-CEO da empresa, chegou a dizer que o streaming não era “anti-esportes”, mas que não via um caminho lucrativo para as transmissões ao vivo. A antipatia, no entanto, está caindo por terra: nesta sexta-feira, 15, os boxeadores Jake Paul e Mike Tyson — e uma série de outros lutadores, em confrontos secundários — se enfrentam no ringue com transmissão ao vivo da plataforma, a partir das 22h. No dia de Natal, a Netflix também vai exibir dois jogos da NFL: Chiefs vs Steelers e Ravens vs Texans. “Ano passado, decidimos apostar alto nas transmissões ao vivo”, declarou Bela Bajaria, diretora de conteúdo da Netflix, confirmando a mudança de estratégia da marca.
A nova visão vem em um momento de crescimento do setor. No Brasil, por exemplo, o Prime Video adquiriu os direitos do Brasileirão a partir de 2025, mas já exibe partidas da Copa do Brasil e jogos da NBA — além de Copa Sul-Americana e Libertadores, através do combo com o Paramount+. Dona da ESPN, a Disney tem disponível em sua plataforma uma infinidade de modalidades ao vivo, enquanto a Max, que pertence ao mesmo conglomerado da TNT esportes (a Warner Bros.), disponibiliza jogos do Paulistão e da Champions League. Há ainda a Apple TV+, que tem esportes como o basebol e a liga de futebol dos Estados Unidos (MSL). Na guerra do streaming, transmitir esportes ao vivo ajuda não apenas a conquistar mais assinantes, mas também a fidelizá-los — já que os jogos de um campeonato costumam acontecer de maneira recorrente, e não pontual.
No caso da Netflix, a ideia, por enquanto, é um pouco diferente: a plataforma ainda não adquiriu direitos de grandes torneios esportivos. O mais perto disso é o WWE Raw, luta livre coreografada semanal que passará a ser exibida na plataforma a partir de janeiro. O acordo de dez anos foi estimado em 5 bilhões de dólares, incluindo outros direitos sobre a modalidade que fica no limiar entre esporte e entretenimento. Antes disso, as transmissões estavam ligadas a documentários, como uma espécie de complemento: foi assim com a Netflix Cup, um torneio de golfe exibido em novembro que uniu profissionais do esporte a pilotos de Fórmula 1, juntando em um evento ao vivo atletas que aparecem nas séries documentais Drive to Survive e Full Swing. A ideia é a mesma do Netflix Slam, amistoso organizado pela plataforma entre os tenistas Rafael Nadal e Carlos Alcaraz — que também “estrelam” Break Point, sobre os bastidores do circuito internacional de tênis. No caso do box, a terceira temporada da antologia Untold é sobre Jake Paul — que enfrenta Mike Tyson nesta sexta-feira. Patrick Mahomes, quarteback dos Chiefs — que jogam no Natal — também tem um documentário para chamar de seu.
Mais do que bater de frente com os concorrentes que detém grandes direitos, no entanto, a ideia da Netflix com os esportes ao vivo parece ser impulsionar os seus anúncios. Lançado recentemente, o plano com publicidade fica restrito aos que pagam menos — e abrange, hoje, 70 milhões de assinantes. Com os eventos ao vivo, no entanto, a plataforma pode vender anúncios que serão consumidos por toda a sua base de contas, nos intervalos das partidas e eventos especiais. Isso, é claro, aumenta o alcance das propagandas, e é um atrativo para o mercado publicitário. No caso dos jogos natalinos da NFL, os spots comerciais se esgotaram e, segundo a mídia local, os “pacotes” foram vendidos por cerca de 5 milhões de dólares cada. O acordo com a liga em relação aos jogos natalinos, inclusive, é de três anos, fazendo com que não seja algo pontual. De toda forma, é uma mudança e tanto para a gigante do streaming.
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