A frustração da Netflix na busca por repetir fórmula de ‘Drive to Survive’
Série de sucesso injetou novo fôlego no automobilismo fora das telas, mas o mesmo não vem ocorrendo com produções do mesmo estilo de outros esportes

Desde que Drive to Survive estreou na Netflix, em 2019, o sucesso da produção verteu a Fórmula 1 em uma mina de ouro para o streaming, com documentários, séries e filmes anunciados em vários canais. Na plataforma, a repercussão da série, apontada como uma das responsáveis pela retomada da popularidade do automobilismo, inspirou produções similares, que mergulham nos bastidores do esporte para revelar ao público o que a transmissão televisiva não mostra. A tentativa de reproduzir o sucesso da pioneira, no entanto, parece ser uma jornada ingrata para a plataforma — aponta um relatório da revista americana Variety.
Além da quinta temporada de Drive to Survive, que chegou à plataforma em fevereiro, a Netflix lançou esse ano as séries documentais Break Point, focada no tênis, e Dias de Golfe, no esporte do título. A premissa é a mesma: acompanhar um grupo de atletas durante uma temporada, cobrindo seus altos e baixos e as intrigas de bastidores. O resultado, no entanto, não é tão animador: enquanto as temporadas 4 e 5 de Drive To Survive figuraram no top 10 em mais de 40 países nas semanas de estreia, com mais de 50 milhões de horas assistidas, Dias de Golfe atingiu a marca em 12 países, e Break Point somente em três.
Fora das telas, o impacto da série automobilística também não parece se repetir nas outras produções. Segundo uma pesquisa da Morning Consult de março de 2022, 28% dos americanos se identificaram como fãs da F1, e mais da metade disse que Drive to Survive foi um catalisador para acompanhar o esporte. Isso se reflete na prática: nos últimos anos, a categoria se recuperou da crise, crescendo em audiência. Um relatório da Nielsen vincula parte do aumento da última temporada à série da Netflix, observando que “mais de 360.000 espectadores que não assistiram à F1 na última parte da temporada de 2021 assistiram às corridas de F1 em 2022, depois de ver Drive to Survive pela primeira vez”.
Enquanto isso, a audiência do Aberto da Austrália de tênis, que aconteceu poucos dias após a estreia de Break Point, se manteve estável, aumentando apenas 4% entre os jovens de 18 a 49 anos. No caso do golfe, o PGA Tour até cresceu em relação ao ano passado, mas seguiu como uma das piores audiências da história da competição, atrás apenas de 2021 e 2017. O efeito, é claro, pode precisar de mais tempo para se consolidar, e ambas as séries estão renovadas para novas temporadas. Há, no entanto, uma diferença fundamental: enquanto a F1 é, intrinsecamente, um esporte global, e passou por uma reformulação completa desde que a Liberty Media assumiu a categoria, o tênis e o golfe não parecem seguir pelo mesmo caminho. Resta saber se as séries, por si só, serão suficientes.