A atriz Drew Barrymore encontrou uma nova vocação em 2020, quando — em plena pandemia — passou a apresentar seu próprio talk show na rede CBS. Vulnerável e altamente emocional, ela logo se tornou queridinha da internet e dos famosos por sua abordagem crua nas entrevistas, chorando ao lado de seus convidados, sentando-se no chão e compartilhando relatos pessoais que nada tinham a ver com lançamentos badalados. Três anos depois, com o advento das atuais greves dos roteiristas e atores, porém, muito mudou, até mesmo sua reputação, manchada pelo anúncio da última segunda-feira, 11, de que ela voltaria a gravar seu programa mesmo sem roteiristas ou estrelas. A retaliação pública foi tanta que, em meros sete dias, ela publicou um vídeo de desculpas, o deletou e, enfim, anunciou que suspenderia novamente as filmagens.
A situação logo escalou no primeiro dia de gravações. Na ocasião, os fãs Dominic Turiczek e Cassidy Carter estavam animados por ganharem ingressos de graça para o programa. Na porta, onde grevistas protestavam com cartazes e frases de efeito, o par recebeu buttons do sindicato dos roteiristas (WGA) e, desavisados, os prenderam a suas respectivas camisetas. Dito e feito, eles não conseguiram nem sentar em suas cadeiras, interrompidos por um segurança que, segundo o casal, impôs: “Falei com pessoas acima de mim, vi o que estão usando e vocês estão fora, sem mais”. Um representante do Drew Barrymore Show afirmou que o ocorrido havia sido um mal-entendido do qual a apresentadora não tinha conhecimento, e prometeu oferecer novos ingressos para os afetados, mas a notícia já havia corrido mundo afora e manchado ainda mais a reputação de Drew, que havia antes apoiado a paralisação.
Até aí, a estreia do programa se mantinha de pé, e ocorreria nesta segunda-feira, 18 de setembro. Na sexta, 15, Barrymore publicou em suas redes um vídeo de desculpas em que, modesta e chorosa, diz pedir perdão “profundamente” aos escritores e aos sindicatos, mas se explica: “Não esperava tanta atenção, não queremos quebrar regras e vamos agir conforme os sindicatos. Queria voltar porque, como disse, isso é maior que eu e arrisca o trabalho de outras pessoas”.
Mantendo a decisão de trabalhar sem roteiristas, o vídeo não foi bem recebido pelo público ou colegas grevistas, e um representante do WGA afirmou em comunicado que Drew “não deveria estar no ar enquanto seus escritores estão na rua lutando por um acordo trabalhista justo — na verdade, é impossível manter programas assim sem qualquer roteirização”. Ela apagou sua declaração horas após tê-la publicado e, no domingo, 17, anunciou que suspenderia as filmagens novamente, desta vez até o fim da greve. Em resposta, o sindicato suspendeu também o piquete em frente ao estúdio de Drew.
Atualmente, os sindicatos dos roteiristas e dos atores estão congelados nos Estados Unidos em busca de condições mais justas de trabalho, já que a indústria sofreu mudanças radicais com a implementação do streaming e da inteligência artificial. Sob tal conjuntura, as classes têm pouco acesso a seus royalties e a oportunidades de trabalho devido ao fim da televisão a cabo e à substituição de trabalhadores criativos por ferramentas digitais. Os roteiristas já protestam há mais de quatro meses, enquanto os atores contabilizam nove semanas.