Renato Portaluppi está de volta ao Flamengo. Nesta quarta-feira, 14, ele iniciou sua trajetória como técnico rubro-negro com vitória sobre o Defensa y Justicia pelas oitavas de final da Copa Libertadores. Há 34 anos, ele chegou ao Rio de Janeiro, a cidade que aprenderia a amar, após conflitos com torcida e diretoria do Grêmio. Era a primeira de suas quatro passagens como atleta na Gávea. Como mostra entrevista à PLACAR de 10 de agosto de 1987, Renato demorou a cair nas graças da torcida. Meses depois, brilharia na conquista da Copa União, o Brasileirão daquele ano.
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No papo com a repórter Martha Esteves, o gaúcho demonstrou a irreverência de sempre, mas jurou estar mais focado do que nunca em retomar a boa fase, aos 24 anos. Na ocasião, ele já começava a agradar a nação rubro-negra, com nove gols em 29 jogos, após um semestre em que convivera com problemas físicos. O ponta direita de rara técnica e força física se dizia azarado. “Colocaram a maior urucubaca. Nunca me machuquei assim em meus tempos de Grêmio”, desabafou (clique aqui para ler a entrevista na íntegra.)
O calendário já era um enorme problema. Além da má sorte, Renato culpou a escolha do Flamengo de realizar excursões na África na Europa pelo seu excesso de lesões musculares e contou que recorreu à religião para retomar a boa forma física. O atacante se dizia obcecado em vencer a final do Campeonato Carioca. “Se isso acontecer (ficar fora da final), eu mato um. Esse é um sonho antigo, quando senti o gostinho da torcida no Fla-Flu quase tive um troço.” O troféu, no entanto, ficaria com o Vasco do jovem Romário.
Renato afirmou que o “patrulhamento” que sofria em suas folgas em Porto Alegre foi o principal motivo de sua saída do Grêmio, mas evitou falar qual era a melhor torcida entre cariocas e gaúchos. “Galera é igual em qualquer Estado, as cobranças são inevitáveis. A diferença entre as duas é simples: a enorme falta de compreensão dos gremistas. (…) Com a quantidade de cerveja que tomei, ajudei o Grêmio a ganhar todos os títulos possíveis. Mas se eu faltava em algum treino, meu Deus, pegavam no meu pé.”
A PLACAR, Renato exibiu seu bom-humor e marra habituais ao falar da fama de mulherengo e ao dizer que ainda se considerava o melhor jogador de sua posição, apesar de não estar mais sendo lembrado para a seleção brasileira. Também pisou na bola ao comentar sobre o grande assunto daquela época, os casos de Aids que causavam pânico mundo afora. O jogador só perdeu a paciência ao falar de Telê Santana, o técnico que o cortou da Copa do Mundo ano anterior, no México, em uma polêmica envolvendo o lateral Leandro, que também foi excluído do grupo.
“Eu o odeio, sim. Ele me fez muito mal. É a única pessoa que me deu muita força no começo e depois me isolou totalmente sem qualquer explicação. Nunca o perdoarei. Só de falar o nome dele já me dá calafrios”, exagerou, já que as mágoas seriam curadas com o tempo. Ao técnico Antônio Lopes, então seu comandante no Flamengo, Renato foi só elogios (e piadas).
“Quando ele chegou à Gávea, todo mundo falava da sua dureza. Ou ele me enganou ou o pessoal mentiu (…) Conversava sempre comigo e me deu treinos especiais. O interesse dele chegou a me comover. Tem quatro ou cinco jogadores que brincam que ele é meu pai. Eles dizem que o Lopes puxa meu saco, pode?”
O título carioca não veio, mas depois aquele espetacular Flamengo de Zico, Bebeto e Renato, entre outros craques, conquistaria a Copa União com show de Renato. O gaúcho seria eleito o Bola de Ouro, prêmio dado por PLACAR ao melhor jogador do campeonato, antes de se transferir para a Roma, da Itália, onde não obteve o mesmo sucesso. Trinta e quatro anos depois, Renato tentará reconquistar o coração rubro-negro, agora à beira do gramado.