Que mico! O que o macaquinho tem a ver com o vexame
“Ai, pai, que mico!” Uma das gírias preferidas dos adolescentes brasileiros desde fins do século passado – permanência que explica o fato de não ser exclusiva dos adolescentes – tem seu aspecto curioso menos na origem do que no desenvolvimento semântico que levou o macaquinho de rabo comprido a significar “situação embaraçosa, vexame” (Houaiss). Dicionarizada […]

“Ai, pai, que mico!” Uma das gírias preferidas dos adolescentes brasileiros desde fins do século passado – permanência que explica o fato de não ser exclusiva dos adolescentes – tem seu aspecto curioso menos na origem do que no desenvolvimento semântico que levou o macaquinho de rabo comprido a significar “situação embaraçosa, vexame” (Houaiss).
Dicionarizada pela primeira vez em 1789, a palavra mico foi importada do espanhol mico, que já contava então com dois séculos de existência e tivera como matriz um termo indígena caribenho, meku ou miko, de idêntico sentido, segundo o filólogo Joan Corominas. Até aí, nenhuma controvérsia.
Reconstruir a passagem da acepção zoológica ao sentido informal de “vexame” comporta necessariamente algum risco, mas tudo indica que o Houaiss está certo ao identificar como passo intermediário o mico-preto do velho jogo de cartas infantil.
Mico Preto (o da ilustração ao lado) começou sua carreira como marca registrada. Nesse jogo perde quem, no fim, tem na mão a carta do macaquinho. Fez tanto sucesso que virou substantivo comum e acabou dando num verbo de ampla circulação, micar, que significa ficar com um título ou propriedade que já não tem aceitação no mercado e também, por extensão, simplesmente fracassar.
O passo seguinte – “ainda uma conexão hipotética”, como ressalva o melhor dicionário brasileiro – seria ligado à vergonha de terminar o jogo com o mico na mão. Conexão hipotética, mas muito provável. Quem jogou sabe: todo mundo morria de rir do coitado.