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Por Sérgio Rodrigues
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.
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O procurador que não acha nada e o que acha demais

Em junho do ano passado, a Palavra da Semana foi procurador, que agora faz sua volta triunfal, mas desta vez por um motivo diferente. Na época, talvez tenha faltado ao procurador justamente a disposição de procurar, enquanto esta semana, de tanto procurar, ele achou até o que não existia. Convém explicar. Quem motivou o post […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 09h24 - Publicado em 3 mar 2012, 10h30

Em junho do ano passado, a Palavra da Semana foi procurador, que agora faz sua volta triunfal, mas desta vez por um motivo diferente. Na época, talvez tenha faltado ao procurador justamente a disposição de procurar, enquanto esta semana, de tanto procurar, ele achou até o que não existia.

Convém explicar. Quem motivou o post do ano passado, intitulado “O procurador procurou?”, foi o procurador-geral da República ao arquivar as representações contra o então ministro da Casa Civil, Antonio Palocci.

Desta vez, coube ao procurador Cléber Eustáquio Neves enxergar racismo numa das acepções da palavra “cigano” que constam do dicionário Houaiss, ignorando que o papel dos lexicógrafos é registrar objetivamente os sentidos que os vocábulos vão acumulando ao longo da história.

Nos dois casos, procurando demais ou de menos, o fato é que a palavra procurador não carrega – apesar das aparências – o sentido de alguém que busca algo, e sim o daquele que cuida de algo. Como? Republico abaixo o argumento principal daquele post, que acredito deixar clara a distinção.

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Embora sejam derivados no fim das contas do mesmo termo latino, procurare, o substantivo procurador e o verbo procurar, com o sentido de “buscar, empenhar-se em encontrar”, foram se distanciando semanticamente ao longo dos séculos.

O procurador permaneceu próximo do sentido original de procuratoris: “o que está encarregado de alguma coisa, o que tem a seu cargo um cuidado, o que administra”, segundo o dicionário Saraiva. Vêm daí tanto a acepção de “advogado que zela pelos interesses do Estado” – de onde saiu o nome do cargo ocupado por Gurgel – quanto a de “alguém que tem procuração, isto é, autorização para administrar os negócios de outra pessoa”.

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Não fica claro quando foi que procurare, que no latim clássico se limitava ao campo semântico acima, acabou por adquirir o sentido que hoje é hegemônico em português. O certo é que ao desembarcar aqui, no século 14, a palavra já tinha esse significado.

Se as datas são nebulosas, não é difícil entender a lógica de tal transformação. O procurador e a procura trazem embutidos o termo latino cura, isto é, “cuidado, zelo, administração, supervisão”. A mesma palavra e a mesma ideia que estão presentes na cura do vocabulário médico, no cura do vocabulário religioso, na curadoria do vocabulário artístico e na curiosidade do vocabulário de todo mundo.

É justamente na curiosidade que, se formos curiosos, vamos encontrar as pegadas deixadas pelo verbo “procurar” ao se distanciar de sua origem administrativa para ganhar o sentido investigativo hoje dominante. Saraiva de novo: curiositatis é “cuidado, diligência em buscar uma coisa… busca, procura cuidadosa… desejo, empenho de saber, conhecer, achar, descobrir”.

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