Assine VEJA por R$2,00/semana
Sobre Palavras Por Sérgio Rodrigues Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.
Continua após publicidade

Namorados falam a língua dos conspiradores

Ninguém precisa ter lido o belo livro “Fragmentos de um discurso amoroso”, do francês Roland Barthes, para saber que na boca dos namorados, dos amantes, as palavras ganham características peculiares. Isso se dá em parte por intensificação: um simples “não” tem o poder de escavar abismos dantescos de infelicidade, um mero “sim” pode ser a […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 11h39 - Publicado em 12 jun 2011, 10h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Ninguém precisa ter lido o belo livro “Fragmentos de um discurso amoroso”, do francês Roland Barthes, para saber que na boca dos namorados, dos amantes, as palavras ganham características peculiares. Isso se dá em parte por intensificação: um simples “não” tem o poder de escavar abismos dantescos de infelicidade, um mero “sim” pode ser a senha que dá acesso ao paraíso. Mas não é só isso.

    Publicidade

    Outro traço marcante da linguagem amorosa é a polissemia que faz um “não” querer muitas vezes dizer “sim”. E vice-versa. Trata-se de terreno movediço, perigoso, como sabe qualquer um que já tenha passado horas mergulhado em alguma D.R. (discussão de relação), esse gênero tortuoso de diálogo que, geralmente deflagrado por ninharias, acaba por adquirir a força caudalosa dos grandes épicos.

    Publicidade

    A linguagem amorosa tem pontos de contato, nesse aspecto, com a dos conspiradores, sobre a qual ninguém escreveu melhor que o russo Fiodor Dostoievski no romance “Os demônios”. Chega um momento, em toda conspiração, em que ninguém mais sabe onde pisa, o que é dito com segundas intenções e o que, tendo sido dito por você de boa-fé, pode ser usado para atingi-lo em algum processo futuro. Cada palavra arrasta uma cauda de conotações imprevisíveis.

    Neurótico? Sem dúvida. Faz sentido que seja assim, pois toda história de amor é mesmo uma espécie de conspiração a dois. Mas os amantes levam uma vantagem sobre os conspiradores: eles têm a chance de, percebendo o momento em que as palavras enlouquecem de vez, podendo significar tanto aquilo quanto o contrário daquilo, optar pelo silêncio e deixar que apenas seus corpos falem, sussurrem, gritem. Esses não mentem jamais.

    Feliz Dia dos Namorados a todos.

    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Domine o fato. Confie na fonte.

    10 grandes marcas em uma única assinatura digital

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 2,00/semana*

    ou
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 39,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.