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Sobre Palavras Por Sérgio Rodrigues Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.
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Eu e mim: quando usar um e outro?

“Sempre fico em dúvida sobre ‘eu’ e ‘mim’. Quando usar uma ou outra palavra? Saudade de eu ou saudade de mim? Existe alguma regra?” (Carlos Alberto Goldani) “Saudade de mim”, Carlos Alberto. Sim, existe uma regra básica e ela, como diz o ex-árbitro Arnaldo César Coelho, é clara, embora comece a se complicar nos casos […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 05h04 - Publicado em 31 out 2013, 15h46
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  • “Sempre fico em dúvida sobre ‘eu’ e ‘mim’. Quando usar uma ou outra palavra? Saudade de eu ou saudade de mim? Existe alguma regra?” (Carlos Alberto Goldani)

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    “Saudade de mim”, Carlos Alberto. Sim, existe uma regra básica e ela, como diz o ex-árbitro Arnaldo César Coelho, é clara, embora comece a se complicar nos casos particulares que o uso consagra a partir daí. Para expô-la com certa grosseria: eu é sujeito, mim é objeto.

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    Convém explicar melhor. “Eu” é chamado pelos gramáticos de pronome pessoal reto – como tu (e, na prática, também você, que é considerado pronome de tratamento), ele, nós, vós, eles. O que caracteriza os pronomes retos é o fato de serem usados basicamente no papel de sujeito (e mais raramente no de predicativo do sujeito). Na maior parte dos casos, como neste que Carlos Alberto apresenta, o pronome é reto quando existe um verbo cuja ação seja comandada por ele.

    Exemplo: “Eu sinto saudade de ti”. O verbo é sentir e quem sente sou eu.

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    Se o pronome, ao contrário, sofre a ação do verbo – em outras palavras, quando é empregado como complemento, no papel de objeto direto ou indireto –, usa-se a forma oblíqua em vez da reta. No caso da primeira pessoa do singular, emprega-se “mim”, que é chamado de pronome pessoal oblíquo tônico – ou “me”, o oblíquo átono, mas este escapa ao âmbito desta consulta. Outros oblíquos tônicos são ti, si ou ele, nós, vós, si ou eles (repare que alguns coincidem com os retos).

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    Vamos ao exemplo: “Tu sentes saudade de mim”. O verbo é sentir, mas quem sente não sou eu – sou apenas parte do objeto desse sentir. É a posição do pronome em relação ao verbo que define tudo.

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    Eis por que, na norma culta, se diz “para eu fazer” e não “para mim fazer” – erro bastante comum, sobretudo na linguagem oral. O pronome neste caso é sujeito (do verbo fazer) e deve ser reto.

    Deve-se registrar que o uso moderno tem flexibilizado as velhas regras dos pronomes pessoais em diversos casos, sobretudo – mas não só – na linguagem oral. Uma construção como “deixe ele ir” é comum até na fala de pessoas cultas e começa a ganhar emprego literário.

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    Mais avançado em tal caminho está o pronome reto que se imiscui em coordenações com a preposição “entre”, como em “isso fica entre ela e eu”. Neste caso a ordem dos fatores altera o produto: o gramático Evanildo Bechara observa que, enquanto o “entre mim e ela” da língua exemplar ainda tem força, uma construção como “entre ela e mim” vai caindo em desuso e “dificilmente sairia hoje da pena de um escritor moderno”. E acrescenta: “Este desvio da norma encontra paralelo em outras línguas românicas, como o espanhol e o italiano”.

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    Seria possível escrever um livro inteiro sobre pronomes, tema vasto e complexo, mas de uma coisa Carlos Alberto pode estar certo: em nenhuma das páginas desse livro uma construção como “saudade de eu” seria acolhida na norma culta.

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