“Um professor de português me disse que a palavra ‘cadê’ é grosseira, está errada, em vez disso devemos dizer ‘onde está’. Isso faz sentido? Confesso que fiquei confusa, pois sempre falei e ouvi ‘cadê’, e agora?” (Melissa Fontes)
Seu professor peca pelo excesso de rigor, Melissa. O advérbio “cadê” é um brasileirismo que ainda conserva certa carga – cada vez menor, parece – de informalidade, mas não pode ser considerado uma palavra “errada” pelo menos desde o último quarto do século XIX.
Expressão interrogativa que significa “onde está”, “cadê” é uma variação mais bem-sucedida de outra palavra exclusivamente brasileira, “quede” – que primeiro virou “quedê”, depois “cadê”.
Tanto “cadê” quanto “quede” são contrações da expressão “que é de”, isto é, “que é feito de”, “onde está”, “onde foi parar”.
É verdade que, em contextos formais, deve-se dar preferência a uma construção mais clássica como “onde está”. Contudo, condenar “cadê” como erro seria um equívoco tão grande quanto condenar a contração “você” (de “Vossa Mercê”, por intermédio de “vosmecê”).
Como expliquei numa consulta semelhante de cinco anos atrás, bastam, para deixar claro que o surgimento de “cadê” enriqueceu a língua portuguesa, estes versos do poema “Essa negra Fulô”, de Jorge de Lima (foto), com os quais o Aurélio ilustra o verbete “cadê”:
Ó Fulô? Ó Fulô?
Cadê meu lenço de rendas,
cadê meu cinto, meu broche,
cadê meu terço de ouro
que teu Sinhô me mandou?