– Acredita que ela me deixou esperando quase uma hora na mesa do restaurante? A essa altura eu estava morto de fome.
– Puxa, que chato. Mas o que é isso que você faz com os dedos quando fala?
– Hein?
– Esses ganchinhos assim, tic-tic. O que significa isso?
– Você deve estar brincando. Jura que não sabe?
– Gostaria mesmo que me explicasse.
– São aspas, cara. Desenho aspinhas no ar.
– Ah, aspinhas no ar! E por que você faz isso?
– Pense um pouco. Por que será que eu faço isso?
– Não tenho ideia. Sério.
– Para indicar uma coisa que não é literal, cara. Uma coisa entre aspas.
– Ah, entendi. Você fala que estava morto de fome e desenha aspinhas para deixar claro para mim que não estava realmente morto, né? Que isso é só força de expressão.
– Isso aí.
– Porque do contrário, sem as aspinhas, eu poderia entender que você tinha morrido mesmo naquela mesa do restaurante enquanto ela não chegava.
– Não, é que…
– E nesse caso eu estaria conversando agora com um fantasma, uma ideia decididamente aterrorizante. Obrigado por se preocupar.
– Cara, alguém já te disse que você é a pessoa mais chata do mundo?
– Depende. Com ou sem aspinhas?