Surpreende muita gente saber que grafite não é uma palavra com duas acepções, mas duas palavras diferentes. Uma é substantivo feminino nos dicionários, a grafite, e designa o mineral que recheia o lápis; a outra é substantivo masculino, o grafite, e significa desenho ou rabisco feito em muros ou paredes.
A primeira surgiu antes, em meados do século 19, e veio de Graphit, termo técnico criado em 1789 pelo mineralogista alemão A.G. Werner para batizar uma variedade de carbono que, mesmo sendo parente do diamante, tem baixo valor comercial. Já sua utilidade é enorme: a eficiência com que risca certas superfícies porosas, especialmente folhas de papel, não tem rival na natureza. Se o diamante é eterno em si, a grafite também tenta chegar lá por seus próprios meios – os simbólicos.
Já o outro grafite, pichação, é um termo do século 20, embora sua raiz seja mais antiga que a do xará: o italiano graffito, que significa pequena inscrição na pedra, em baixo relevo, especialmente feita na antiguidade.
É claro que existe uma base histórica para a coincidência gráfica dos dois grafites. Eles têm um ancestral comum, o grego grápho, que significa escrever, gravar. Para criar o neologismo Graphit, algo como “pedra de escrever”, Werner recorreu a essa matriz, a mesma em que se baseava o italiano graffito – graffiti no plural –, um termo de 1550.
Apenas como curiosidade, registre-se que alguns sábios, mesmo não dizendo que a grafia grafite está errada, preferem a forma “grafita” para o mineral usado para escrever e “grafito” para a pichação. Naturalmente, como sabe qualquer um que tenha ouvidos para a língua das ruas, trata-se de casos perdidos.