A locução “eminência parda” é sem dúvida uma tradução do francês éminence grise, termo usado com intenções depreciativas pelos críticos do frade capuchinho François Leclerc du Tremblay (retrato ao lado), mais conhecido como padre Joseph, que nas primeiras décadas do século 17 foi uma figura tão influente quanto discreta na política francesa como braço direito do cardeal Richelieu, o mais importante ministro do rei Luís XIII.
Dupla unida, temida e odiada, Richelieu e Joseph ganharam de seus críticos os apelidos de “eminência vermelha” e “eminência cinza”, respectivamente, em referência às cores de seus hábitos.
Mas por que, entre nós, alguém que exerce um grande poder a partir dos bastidores, sem jamais mostrar a cara, é conhecido como eminência parda e não cinza – que seria a tradução mais óbvia do francês grise?
Quem foi o primeiro autor lusófono a cunhar o termo “eminência parda” é uma informação que parece ter se perdido. No entanto, não se trata de um erro de tradução. Pardo é um termo vago e abrangente que tem entre suas acepções – além de “branco sujo” e “que pode variar do amarelo ao marrom escuro” – uma que explica tudo: “cor escura, entre o branco e o preto” (Houaiss). Ou seja: cinza, pois é.
Traição de verdade ao espírito da locução francesa vem ocorrendo no inglês, língua em que a expressão gray eminence é cada vez mais empregada, inclusive por veículos de comunicação de prestígio, com o sentido de “membro veterano e destacado de um grupo”, como se o cinza fizesse referência a cabelos grisalhos e não ao hábito de um certo capuchinho que não gostava de aparecer.