Mateus Bandeira (Novo): ‘É imperioso colocar ordem nas despesas’
Candidato ao governo gaúcho pelo partido Novo é o sétimo entrevistado, por ordem alfabética, nesta série de VEJA
Filiado ao partido Novo desde 2017, Mateus Bandeira foi secretário de Planejamento e Gestão durante o governo de Yeda Crusius (PSDB), foi presidente do Banrisul, o banco do estado, e presidiu a Falconi, maior empresa de consultoria do país, durante seis anos. Agora, Bandeira pretende ser governador do Rio Grande do Sul para priorizar a responsabilidade fiscal e a segurança pública.
Bandeira defende também a compra de vagas em escolas privadas para melhorar os índices de educação, defende a privatização das estatais e o fim da obrigatoriedade do plebiscito para a venda das empresas do governo gaúcho. Para ele, apenas o ajuste nas contas do estado possibilitará o pagamento em dia dos salários dos funcionários públicos, parcelados há quase três anos. Contudo, Bandeira é contra o parcelamento exclusivo do Executivo, defendendo parcelamento também para o Judiciário e Legislativo, que atualmente recebem em dia.
Mateus Bandeira é o sétimo entrevistado, por ordem alfabética, nessa série de VEJA com os pré-candidatos ao Piratini. A primeira entrevistada foi Abigail Pereira (PCdoB), o segundo entrevistado foi Eduardo Leite (PSDB), o terceiro foi Jairo Jorge (PDT), o quarto foi Julio Flores (PSTU), o quinto foi Luis Carlos Heinze (PP) e o sexto foi Luiz Portella (PMB). Abaixo, a entrevista de Bandeira e fotos de arquivo pessoal selecionadas por sua equipe a pedido de VEJA.
Data de nascimento: 07/06/1969
Naturalidade: Pelotas
Estado civil: casado
Cônjuge: Daniela Maronas Monks Bandeira
Filhos: dois, os gêmeos de sete anos Pedro e Mateus
Formação: Tecnologia em Processamento de Dados pela Universidade Católica de Pelotas, com MBA pela Wharton School (Universidade da Pensilvânia) e especialização pela Harvard Business School
Profissão: consultor de empresas
Histórico de filiação: Novo, desde 2017
Por que o senhor quer ser governador?
Nós vivemos em um momento gravíssimo. Passamos pela crise mais severa da história do Brasil. Uma crise moral, fiscal e econômica, como decorrência de um modelo falido de estado, um estado interventor, intrusivo na vida das pessoas, cada vez mais pesado de carregar nos ombros do setor produtivo. As pessoas estão exaustas, saturadas, desesperançosas com o país, descrentes com a política. Não quero fazer da política um meio de vida, sou uma pessoa bem-sucedida na iniciativa privada e no setor público, como servidor da Fazenda. Acho que as pessoas com preparo e competência têm dever moral de participar desse processo. Não procurei a política, fui convidado a participar do Novo. Aceitei depois de refletir muito. Cheguei à conclusão que a melhor forma de dar uma contribuição era colocar meu nome à disposição. Tive passagem pelo governo federal, pelo Tesouro do estado e fui secretário de Planejamento e Gestão. Quando assumi, foram os únicos três anos de duas décadas em que as contas do estado estiveram no azul. Tenho convicção que, dos candidatos, sou o que mais conhece das finanças públicas do estado.
Qual é a prioridade do senhor para o estado?
Não dá para ser uma só. Hoje a gente vive uma linha muito tênue entre uma crise fiscal, consequência de décadas de irresponsabilidade, e um colapso operacional. Porque a diferença entre a despesa e a receita é tão grande que, se não tiver uma alternativa urgente, o cenário será dramático, com paralisia dos serviços. É imperioso colocar ordem nas despesas, sem aumentar impostos porque ninguém aguenta mais. Colocar as contas em ordem também pressupõe melhorar o ambiente de negócios com menos entraves e mais facilidade para quem quer investir. Outra prioridade é a segurança pública. A falta de segurança afugenta os investimentos, os jovens vão embora e, aí, perdemos nosso futuro. Precisamos restabelecer a ordem e a segurança para que as pessoas possam ter o direito mais importante, que é o direito à vida. Por isso, não é só uma prioridade.
Como o senhor fará para pagar os salários em dia?
Fui servidor público muito jovem, como auditor fiscal aos 23 anos, e passei quinze anos no setor público. Por ter passado por diferentes governos, sei que existem muitas carreiras com pessoas de qualidade. Para fazer esse esforço de ajuste, não queremos contar com cargos de comissão. Vamos fazer uma profunda revisão de cargos comissionados, um corte violento, como nunca se viu, com apenas doze secretarias. O estado não deixa de pagar salários por outra razão que não seja a impossibilidade material. Porque falta dinheiro, porque se promoveu uma farra fiscal com benefícios, vantagens, subsídios e desonerações fiscais que desequilibraram as finanças. É preciso começar o ajuste para voltar a pagar rapidamente. O pagamento no primeiro dia do mês não vai ser para nenhum candidato. Não há possibilidade de pagar em dia. Quem afirma que é possível ou desconhece os números ou é demagógico. Mas o que a gente questiona é que se o estado não tem recursos, então tem que faltar para todos. Não pode parcelar apenas o salário do policial que está na rua, do professor que está em sala de aula. Outros setores recebem rigorosamente em dia. O cidadão gaúcho não paga impostos para pagar primeiro o Judiciário e a Assembleia. Se falta recurso, todo mundo tem que receber em atraso. Se todos sofressem o drama de trabalhar para um estado quebrado, todos seriam “sócios” e alinhados para colocar em ordem. Como afeta poucos, quem tem menos poder e capacidade de reclamar sofre essa injustiça brutal, fruto de uma decisão política covarde.
Como o senhor fará, então, parar tirar o estado da crise?
Primeira medida é encaminhar, na primeira semana, autorização legislativa para privatização. O estado não tem que ser empresário. A privatização é contrapartida para aderir ao pacote de regime de recuperação fiscal do governo federal, que garantiria tempo para fazer reformas ao suspender temporariamente o pagamento da dívida com a União. A segunda medida é um grande projeto de simplificação e desburocratização. Tudo aquilo que representa entrave, como alvará, concessão, licença previa, deve levar o menor tempo possível. Faremos o chamado “orçamento base zero”, construído a partir de prioridades. A partir daí, começamos a discutir inovação em outras áreas, como a educação. Ocupamos a vergonhosa posição de número quinze no Ideb do ensino médio. Para melhorar rapidamente o ensino, defendo a compra de vagas em escolas de qualidade, como um ProUni do ensino básico. Ao dar um cupom, a gente dá liberdade de escolha. Não é só porque a família é pobre que é obrigada a matricular o filho em uma escola ruim. Isso abre espaço para criar uma competição saudável nas escolas. Outra medida que queremos testar são as escolas comunitárias, inspiradas no modelo das “charter schools”, com processo público de seleção da entidade para gerir a escola e o estado cobrar desempenho.
No Rio Grande do Sul, qualquer privatização precisa ser aprovada por votação popular em um plebiscito. A atual gestão tentou, primeiro, retirar a obrigatoriedade do plebiscito para realizar as privatizações e, depois, tentou realizar o plebiscito simultaneamente às eleições antecipando o prazo da convocação. Qual é a opinião do senhor sobre a lei e sobre a privatização?
Esse dispositivo constitucional é uma grande jabuticaba que não encontra paralelo no mundo. Se é obrigatório plebiscito para vender, então teria que ter plebiscito para criar estatal. Logo no começo do ano vamos apresentar projeto para as vendas e, logo de cara, esclarecer a população. Perdemos a oportunidade de fazer o plebiscito com a eleição, foi uma violência com os gaúchos. A companhia de energia elétrica, nesses últimos três anos foi comandada pelo PSDB, que estava no governo, e produziu um prejuízo inédito. As estatais estão tirando dinheiro que poderia estar aplicado em segurança e saúde.
O senhor já foi presidente do Banrisul. É favorável à privatização do banco também?
Sou a favor conceitualmente de todas as privatizações. Qual é a justificativa de um estado para ter um banco? Por que ele dá lucro? Mas será que esse lucro poderia ser aplicado em outras coisas? Sou conta a privatização para pagar salário, mas sou favorável a privatizar para pagar dívida. É possível vender o controle e continuar acionista, ficar com 49% das ações. Sou favorável a fazer essa discussão.
A segurança é um dos temas que mais preocupam os gaúchos. Quais são as propostas do senhor para a área?
É preciso que o custo de cometer um crime seja elevado a ponto de inibir de ingressar na criminalidade, que tenham medo de cometer crime, que tenham medo de ser pegos pela polícia e serem encarcerados. Se não tiver sido aprovada esse ano, vamos apresentar o projeto de lei de incentivo à segurança pública, que funciona como a cultura. Assim, as pessoas poderiam destinar percentual dos impostos para o fundo, que serviria para compra de equipamentos carros, coletes, armamento, treinamento, processo e gestão. O estado também precisa tomar alguma medida para recuperar o efetivo, que está no seu menor número. Também incentivar a permanência porque os policiais se aposentam muito cedo e aqueles que se aposentaram muito cedo possam voltar. É importante a garantia de ingressos regular ao longo dos próximos 4 anos. Porque as academias de polícia têm capacidade limitada para recrutar e treinar mil por ano, não adianta anunciar 4.000 novos policiais de uma só vez como fez esse governo, porque eles também irão se aposentar juntos.
O senhor acredita que a candidatura de João Amoêdo (Novo) à Presidência pode emplacar?
Está tudo muito incerto e aberto, as pesquisas nacionais e as daqui mostram que as pessoas não sabem em quem votar ou manifestam que não vão votar. Isso é perigoso. Existe a possibilidade que o vencedor nacional, ou aqui, seja o “não voto”. O único partido que não fez coligação foi o Novo porque não depende de conchavo. Há espaço para que as pessoas saibam quem é o Novo e conheçam a candidatura do Amoêdo.
Além do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que aprece em primeiro lugar nas pesquisas, a preferência do eleitorado é pelo deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ). O que o senhor pensa sobre ele?
O Bolsonaro lidera as pesquisas de opinião porque, de certa forma, manifesta a indignação com tudo que está acontecendo. Na segurança pública há uma inversão de valores, ele manifesta isso com firmeza e está conquistando boa parte da população com um discurso duro. Por conta disso, ele tem capturado o sentimento de “anti-establishment”.
O senhor aparece com 2,1% de intenção de votos na pesquisa eleitoral do Instituto Methodus. O que o senhor pensa desse resultado?
São pesquisas muito iniciais. Em pesquisas internas os índices variam até 4%. Nas últimas três eleições, os que saíram vencedores começaram com índice muito baixio. É importante sempre olhar para o percentual de pessoas que não tem candidato, que foi de 75%, na pesquisa espontânea. Não tenho rejeição, estou entrando agora na política. Somos o partido líder nas redes sociais, com quase dois milhões de seguidores. Aqui, sou o candidato com mais seguidores, tenho o maior engajamento. Será uma campanha sem fundo partidário, com custo baixíssimo. Se cada um dos 100.000 seguidores [no Facebook] fizer dez votos, chegamos a um milhão de pessoas, o que preciso para chegar no segundo turno.