Jairo Jorge (PDT) governou Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre, por dois mandatos, de 2009 a 2016. Por isso, acredita que políticas implantas na cidade podem ser reproduzidas no governo do estado, como uso de tecnologia para melhorar a segurança e redução de impostos para atrair investimentos privados. Ele também aposta na candidatura de Ciro Gomes à Presidência “que jamais teve denúncia de corrupção”.
Jorge planeja criar um fundo para educação a partir dos lucros do Banrisul, o banco estatal gaúcho. Além disso, o pedetista defende redução do número de secretarias, menos hierarquia na gestão, menos burocracia e menos impostos para atrair investimentos privados ao Rio Grande do Sul. Na sua pré-campanha, visitou todos os 497 municípios do estado, plantando uma árvore em cada um.
Jairo Jorge é o terceiro entrevistado, por ordem alfabética, nessa série de VEJA com os pré-candidatos ao Piratini. A primeira entrevistada foi Abigail Pereira (PCdoB), o segundo entrevistado foi Eduardo Leite (PSDB). Abaixo, a entrevista de Jorge e fotos de arquivo pessoal selecionadas por sua equipe a pedido de VEJA.
Data de nascimento: 09/05/1963
Naturalidade: Canoas
Estado civil: Casado
Cônjuge: Thais Pena
Filhos: 2
Formação: jornalismo pela UFRGS
Profissão: jornalista
Histórico de filiação partidária: PDT (desde 2016), PT (1985 a 2016)
Por que o senhor quer ser governador?
Quero ser governador para fazer diferente, para transformar vidas. Para fazer igual, existem outros. Tenho experiência para fazer diferente. Fui eleito e reeleito como prefeito de Canoas. Não olhei para traz e não ataquei meus antecessores. Essa é a minha forma de fazer política. Não olhar só para a crise, mas mirar as alternativas. Encontrei a cidade em uma situação adversa, mas quadripliquei a receita, recebemos muitas empresas. Fiz trabalho de escuta da população indo às ruas e atendia as pessoas no metrô. Fiz um governo participativo. Essa talvez seja a maior crise da história, não é marolinha. Mas também não é insolúvel, desde que tenha convergência e coalisão. A chamada “grenalização”, Grêmio ou Inter, chimango ou maragato, não nos levou a lugar nenhum. Acredito na inovação e em caminhos novos.
Qual é a prioridade do senhor para o estado?
A primeira medida é estabelecer o diálogo e o respeito com os servidores. Estamos vivendo uma “guerra santa” contra o funcionalismo. É uma política de estado completamente equivocada, adotada tanto no governo estadual quanto no governo da capital. Achar que os servidores são o problema é subestimar as razões da crise. A prioridade não é achar culpado, porque assim não surge a solução. Os últimos governos, de 1995 para cá, adotaram quatro saídas: aumentar impostos, privatização, uso dos depósitos judiciais e caixa único. Alguns usaram tudo isso, outros parte. Essas alternativas não têm mais sustentabilidade. Defendo uma agenda de desburocratização, celeridade, menos impostos. Quero reduzir a carga tributária para aumentar arrecadação. O atual modelo chegou em um estágio que mesmo aumentando imposto, reduz a arrecadação. Não precisamos de 17 secretarias, que antes eram 27, queremos apenas dez e que o estado funcione em apenas três níveis hierárquicos. É no início do mandato que o governo coloca sua personalidade. As políticas devem ser apresentadas e colocadas em prática nos primeiros cem dias.
Como o senhor fará para pagar os salários em dia?
O governador Sartori poderia ter adotado um outro caminho, definir uma nova data para o pagamento. Ele podia pagar todo o dia 10 do mês. Mesmo que não seja a data prevista na nossa Constituição, daria previsibilidade aos funcionários. Sem previsibilidade, criou um problema. O governo gaúcho é maior empregador do estado, isso teve um efeito devastador, fechamento de comércio e empresas. A partir de uma nova data estabelecida, poderia, então, trazer o pagamento de forma progressiva para a data correta. Para voltar a pagar em dia, são necessárias políticas intensas que levem ao crescimento, acolher os empreendimentos. Não existe mágica. Quem propor que tem uma cartola para tirar um colho, estará iludindo.
Como, então, o senhor propõe tirar o estado da crise?
Com o binômio menos burocracia e menos impostos. Fiz isso como prefeito. Se antes eram quatro meses para abrir uma empresa, passou a levar dois dias. Implantamos uma lei inédita que quando aumenta a real arrecadação, diminui a alíquota. Isso permitiu reduzir a carga tributária e aumentar a arrecadação, que saltou de 43 milhões de reais em 2009 para 88 milhões em 2014, um crescimento de 104%. Acredito nisso para evitar a perda de empresas que saem do Rio Grande do Sul. Proponho um licenciamento célere, queda no ICMS e uma política agrícola. Precisamos também de biotecnologia e energia limpa. Esse é um mapa de ideias. Precisamos fazer tudo ao mesmo tempo, não dá para ser lento porque em quatro anos temos que entregar o resultado que a sociedade espera. Infelizmente, o Piratini se transformou em usina de destruição de lideranças políticas honradas.
A segurança é um dos temas que mais preocupam os gaúchos. Quais são as propostas do senhor para a área?
Tem que ter a liderança do governador. Não é uma área para principiante. Tem que chamar para si a Brigada Militar, A Susepe, o IGP, a Polícia Civil. Precisamos ter políticas inspiradas no que deu certo no mundo. Como prefeito, Canoas foi reconhecida pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) entre 117 experiências no mundo. Recebemos o primeiro lugar me boas práticas, fizemos experiências interessantes, poucas cidades no mundo fazem isso. Tem que armar e ampliar o efetivo, que é um dos menores da história da corporação. Se, em 1991, tínhamos. quase 30.000 policiais, fechamos 2017 com 15.800. Precisamos de uma ampliação progressiva do efetivo, não abrupta. De outro lado, temos que ter tecnologia de câmeras, leitura de placas, cercamento eletrônico e centros regionais de monitoramento. Temos que ter integração das polícias e inclusão dos jovens, não podemos perde-los para o tráfico. Também temos que ter um novo sistema prisional. Temos, em Canoas, um presídio com uniforme, bloqueador de celular, não tem facção, há trabalho e estudo. Isso agora é possível porque quando era prefeito procurei a governadora Yeda Crusius (PSDB) porque era um problema, não importava se eu era de oposição. Como contrapartida ao terreno, ganhamos o Parque Tecnológico com o projeto do arquiteto Jaime Lerner. Ganhamos indústria, emprego e desenvolvimento.
No Rio Grande do Sul, qualquer privatização precisa ser aprovada por votação popular em um plebiscito. A atual gestão tentou, primeiro, retirar a obrigatoriedade do plebiscito para realizar as privatizações e, depois, tentou realizar o plebiscito simultaneamente às eleições antecipando o prazo da convocação. Qual é a opinião do senhor sobre a lei e sobre a privatização?
É inoportuno, em um processo eleitoral, ficarmos discutindo o tema da privatização. Talvez tenha sido esse o objetivo, de criar cortina de fumaça. A questão do estado não é se ele é grande demais ou pequeno, mas se ele funciona. O papel do governo é fazer funcionar. Não se elege governador para ser leiloeiro, não é esta a minha agenda. Buscaremos PPPs (parecerias público-privadas) e gestão para que toda empresa pública possa dar lucro. O Banrisul teve lucro histórico e poderia, tranquilamente, aumentar sua lucratividade. Planejo criar um fundo para educação. Toda a lucratividade do Banrisul para investir em educação. Isso vai gerar um propósito, um sentido até mesmo para o funcionário que vai saber que o seu trabalho vai se reverter em educação. O cliente vai pensar duas vezes antes de dar recurso para o privado. Assim como Leonel Brizola fez a primeira revolução educacional com as brizoletas, quero fazer a segunda revolução educacional que o Rio Grande do Sul precisa.
O senhor acredita que a candidatura de Ciro Gomes (PDT) à Presidência pode chegar ao segundo turno?
Ele tem condições. Tem a experiência que as pessoas querem, conhecimento, a liderança que a nação necessita, pela história de vida, pela integridade. Jamais teve denúncia de corrupção, o Brasil precisa disso. Estamos cansados da hipocrisia. Ele é uma alternativa. Não podemos mais viver quatro anos como a gente viveu os últimos quatro.
Qual é a opinião do senhor sobre o atual momento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)?
O Lula está à frente das pesquisas porque foi um presidente transformador, mudou os destinos do país. Alguma falha ou erro não podem apagar os acertos. É claro, também, que os acertos não apagam os erros. É natural a presença dele no cenário eleitoral. Ele capitaliza em cima da memória que as pessoas tiveram na vida, na economia, na sociedade, durante seu governo. Acredito nas instituições. Temos que respeitar o legítimo movimento de o PT buscar seu direito de Lula concorrer, caberá ao Supremo Tribunal Federal (STF) a palavra final.
O senhor aparece em segundo lugar na pesquisa eleitoral do Instituto Methodus, atrás do atual governador José Ivo Sartori (MDB). O que o senhor pensa desse resultado?
Uma pesquisa é sempre uma fotografia do momento. Mas mostra o resultado do trabalho que eu fiz nessa pré-campanha percorrendo 497 municípios. Nunca ninguém fez isso e agora não tem tempo hábil [se alguém tentar]. Não faço ataques, é o que as pessoas querem. Continuarei a fazer da mesma forma, sem atirar pedras, com humildade. O leitor é soberano. O registro da pesquisa nos incentiva a continuar.