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Coaching não serve para tratar traumas, diz especialista

Novela da Globo mostrou cenas que mostram a possibilidade de usar técnicas de coaching para ajudar personagem que foi abusada na infância

Por Paula Sperb
Atualizado em 7 fev 2018, 13h50 - Publicado em 7 fev 2018, 13h46
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  • Por causa do trauma da personagem Laura, da novela O Outro Lado do Paraíso, da Globo, ligado a abusos sexuais do padrasto sofridos na sua infância, cenas do capítulo da última sexta-feira sugeriram o uso de coaching (método para promover mudanças positivas) para ajudá-la com o trauma. O Instituto Brasileiro de Coaching (IBC) patrocina a ação de merchandising (propaganda) na novela. Conselho Federal de Psicologia (CFP) chamou a propaganda de “desserviço” e a Globo defendeu a trama argumentando que “novelas são ficção”.

    Com experiência na área de coaching, o especialista Gabriel Carneiro Costa, de Porto Alegre, critica o uso da técnica como “fórmula mágica” para todos os problemas. Costa critica as “promessas” do coaching no seu mais recente livro. Com o título de “Não me iluda” (Integrare, 2017), a obra mostra como o coaching “pode ser perigoso”. “Meu receio é que no dia seguinte [à novela], as pessoas desesperadas com seus traumas de infância procurem um coaching e paguem uma fortuna, façam dois ou três encontros e achem que o trauma estaria resolvido porque o merchandising deu esse peso”, disse a VEJA.

    “A personagem Adriana é uma advogada e tem conhecimentos de coaching e hipnose e por isso foi requisitada pela irmã [Clara] para ajudar a amiga [Laura], ela não está atuando puramente no papel de uma coach Profissional ou de uma terapeuta mas sim, no papel de irmã”, disse o IBC em nota.

    Porém, o especialista explica que o coaching “é um plano de ação para o futuro” e “não é um olhar para passado”. Além disso, ele aponta que a situação do trauma sexual claramente deveria ser tratada por psicólogos. “Não há na formação de um coaching tempo e profundidade suficiente para tratar com profundidade o assunto abordado na novela. Coaching não tem ferramentas, profundidade e tempo de estudo que normalmente é um final de semana, uma semana, um mês no máximo”, argumenta.

    “Qualquer um pode dar formação de coaching. Por incrível que pareça, mesmo sem curso de coaching você pode ensinar. Ninguém pode te proibir disso. Aí nascem muitas escolas de baixa qualificação que vendem uma promessa sobre a ‘profissão do futuro para ficar rico e salvar o mundo’. Trago esse assunto no meu livro como uma crítica. Coaching não é guru, não tem fórmulas mágicas, é uma ferramenta, um processo para ajudar enxergar algumas coisas, para ajudar a agir”, disse à reportagem.

    Além disso, Costa acredita que a ação de marketing sobre coaching pode iludir os telespectadores. “Como é um merchandising dentro do contexto da novela, tem um peso muito maior. O público pode estar sendo iludido, sim. É diferente de um merchandising escancarado em que o cara para no meio da novela e diz “olha esse sabão em pó”. Esse merchandising do coaching está muito oculto e pode enganar. Acho uma pena não ter tido um filtro. Teria sido muito mais legal uma pessoa com dificuldade de carreira e um coaching pudesse ajudar a pensar melhor em planos e ação. Teria feito o merchandising correto e teria sido bom”, opina.

    Por sua vez, o IBC argumenta que a ideia da ação de marketing foi “foi fortalecer o posicionamento da instituição como referência em Coaching no Brasil”.

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