Em discurso na Fiesp, Bolsonaro contou que durante a obra da nova loja da Havan, pertencente a seu amigo Luciano Hang, foi encontrado “um pedaço de azulejo”, o que teria levado o Iphan a embargar a obra.
Diante do embargo, indagou a seu ministro o que era o Iphan, mandou “ripar todo mundo” do instituto e “botou outro cara lá”. A plateia de empresários aplaudiu com entusiasmo o presidente.
O episódio é um retrato do Brasil.
O presidente da República não sabe o que é o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
O presidente da República, imperialmente, demite uma equipe inteira porque discorda de seus critérios profissionais em assunto que ignora absolutamente.
O presidente confessa, com orgulho, interferir pessoal e diretamente em um órgão público para beneficiar um amigo — algo que quem conhece a lei interpretaria como crime de advocacia administrativa.
O presidente da República se orgulha de ferir os princípios de moralidade, legalidade, impessoalidade e eficiência constantes da Constituição que jurou defender (quem sabe acredita ter cumprido o princípio da publicidade, já que deu ciência ao público da barbaridade que cometeu).
Em qualquer país civilizado, um absurdo de tal monta daria impeachment seguido de processo penal na Justiça comum.
No Brasil, a plateia — uma parcela expressiva da elite nacional, e que há décadas usufrui de vantagens e benesses do poder público — aplaude o presidente delinquente.
Vai demorar para sairmos do buraco em que nos metemos.