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O que a França de Macron tem a ver com o Brasil de Lula

A extrema direita representa uma ameaça séria, que precisa ser tratada com a devida seriedade

Por Ricardo Rangel Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 8 jul 2024, 21h33

No último domingo, os franceses acorreram às urnas e evitaram o desastre. O Reunião Nacional, da extremista de direita Marine Le Pen, que havia vencido no primeiro turno, desta vez ficou em terceiro lugar. A esquerda venceu, seguida pelo grupo de Macron. O alívio entre os democratas foi geral.

Afora o desastre ter sido evitado, no entanto, não há tanto a comemorar — mas muito sobre que refletir. Tanto lá como cá.

Na França, a extrema direita foi derrotada porque formou-se uma frente com gente de todo tipo para evitar o mal maior, Le Pen. Aqui, muita gente que detesta o PT aceitou votar em Lula para evitar o mal maior, Jair Bolsonaro.

Na França, a frente é um saco de gatos que não se entendem bem, e mesmo a esquerda, dividida entre radicais e moderados, não se comunica consigo mesma. Com pouco apoio no Congresso e sem saber bem para onde ir, Macron terá dificuldades para governar.

Aqui, Lula venceu porque obteve um apoio espontâneo de forças democráticas que vão da centro-direita à esquerda independente, sem costura de uma aliança real: não há projeto comum, nem compartilhamento de poder. Lula fez questão de transformar gente importante para sua eleição, como Alckmin, Marina e Simone, em figuras decorativas. Sem apoio no Congresso, Lula tem dificuldades para governar.

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Na França, um dos principais vitoriosos, Jean-Luc Mélenchon, foi para a rua e liderou um coro que entoou a Internacional, o principal hino socialista. Aqui, Lula, que já comemorou a nomeação do “comunista” Flavio Dino para o Supremo, acaba de declarar-se “o povo na presidência”. Não é o tipo de atitude de gente que quer construir pontes.

Cabe aos partidos democráticos desmascarar a extrema direita e mostrar ao eleitorado o perigo que ela representa. A direita democrática deve se afastar do extremismo da direita hidrófoba. A esquerda precisa reconhecer que as duas direitas são diferentes e dialogar com a banda democrática, de forma a barrar a banda podre.

Nenhuma das duas coisas está acontecendo. A direita democrática, com medo de perder votos, se abraçou ao bolsonarismo. A esquerda joga ambas no mesmo balaio extremista, como se fossem idênticas.

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A extrema direita, tanto na França no Brasil, continua forte e está em boa medida “normalizada”. Nessas condições, é erro grave acreditar que é possível vencê-la nas urnas indefinidamente. Se as forças democráticas não pararem de brigar entre si, se não trabalharem juntas em prol da democracia, mais cedo ou mais tarde a extrema direita vencerá (no Brasil, de novo).

É questão de tempo.

“Nossa vitória apenas foi adiada”, declarou Le Pen, lembrando que o partido dobrou seu número de deputados.

(Por Ricardo Rangel em 08/07/2024)

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