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O preconceito que não diz seu nome

Surpreende que o antissemitismo seja tão popular na esquerda

Por Ricardo Rangel Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 8 Maio 2024, 16h36 - Publicado em 26 jan 2024, 06h00

Benjamin Netanyahu está promovendo um massacre na Faixa de Gaza. Além de destruir milhares de vidas, a guerra fez com que muita gente explicitasse, meio sem querer, o que antes estava dissimulado.

A grita contra a chacina — que cada vez mais parece limpeza étnica —, evidentemente, é mais do que justificada. Os que gritam mais alto agora, no entanto, pouco gritaram diante de outros massacres similares ou piores. Nos últimos anos, milhares de muçulmanos foram massacrados na Síria, na Chechênia, no Iêmen, em Myanmar, na Bósnia, mas isso não incomodou grande coisa aos mais ultraindignados de agora. Que tampouco negaram aos países agressores o direito de existir.

Quando quem mata é Israel, contudo, aí sempre incomoda muitíssimo. E sempre aparece o protesto contra a própria existência de Israel. Explicam que não é antissemitismo, é antissionismo.

“Do rio ao mar, a Palestina será livre” é um bordão muito repetido por boa parte da esquerda. É um dístico estranho. A Palestina jamais foi um país, ela é um lugar. Até 1948, o último país realmente independente na região chamava-se Judeia. Foi há mais de 2 000 anos, e cobria todo o território entre o Rio Jordão e o Mar Mediterrâneo — “libertar” a região de seus habitantes originais soa esquisito. Os filisteus, antepassados dos atuais palestinos, viviam em Gaza, parte da Judeia. Só seriam árabes e muçulmanos 700 anos depois.

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“Os que gritam contra Israel mais alto agora pouco gritaram diante de outros massacres similares ou piores”

De lá para cá, a Judeia foi conquistada por romanos (que mudaram seu nome), árabes, turcos, ingleses. Depois de muitos séculos em que a Palestina não pertenceu nem a judeus nem a árabes, a ONU criou, em 1947, dois países, Israel e Palestina: os judeus aceitaram; os árabes não aceitaram e invadiram (e perderam).

Os “antissionistas” pretendem entregar o território onde vivem 9 milhões de judeus e 5 milhões de palestinos à minoria — sem dizer o que fazer com a maioria. Seja o que for, resultará em milhares de mortes: na prática, é impossível ser “antissionista” sem ser antissemita. O “antissionismo” é um antissemitismo que não ousa dizer seu nome. (Bolsonaristas fanáticos acham que não são fascistas, “antissionistas” acham que não são antissemitas: cada um se engana como quer.)

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Bolsonaro estimulou manifestações obviamente nazistas e fez o antissemitismo crescer, mas preconceito vindo da extrema direita não surpreende, é a regra. O que surpreende é que o antissemitismo seja tão popular na esquerda, que diz que somos iguais, que combate o racismo e defende a compreensão entre os povos. Marx, Trotsky e tantos outros eram judeus, a gênese de Israel é de esquerda e os kibutzim são a única experiência socialista que deu certo. Ainda mais espantoso é que tanta gente que se considera virtuosa chegue ao ponto de defender grupos que praticam terrorismo, oprimem mulheres, assassinam homossexuais (e qualquer um que pense diferente).

O tempo de cobrar coerência dessa esquerda passou há tempos, mas é positivo que a fantasia solidária identitariamente correta tenha caído. É mais fácil combater o preconceito quando ele não consegue se disfarçar.

Publicado em VEJA de 26 de janeiro de 2024, edição nº 2877

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