O governo conseguiu o impossível
Lula perdeu um gol feito, fez um gol contra e ainda deu um refresco a Jair Bolsonaro
O governo conseguiu o impossível: tirou Jair Bolsonaro das manchetes. Da pior maneira possível.
Depois de quase dois anos de governo, e mais de um mês de dolorosas negociações internas, Lula finalmente apresentou um plano de corte de gastos. Chega tarde e é insuficiente, mas é um passo na direção certa.
O problema é que, receoso do desgaste político e eleitoral, Lula resolveu suavizar o impacto anunciando uma isenção de imposto de renda para quem ganha até 5 mil reais por mês. O mercado fez as contas e chegou à conclusão de que a isenção basicamente zera os ganhos esperados do pacote.
Resultado: a bolsa desabou e o dólar bateu o recorde histórico. O desgaste econômico foi brutal. E o político também.
O anúncio do governo demonstra que:
• Lula que não tem compromisso com o equilíbrio fiscal. Está mais preocupado com votos do que com a saúde financeira do país.
• Lula não enxerga como a economia impacta a política. Se o governo perde o controle de suas finanças, sua capacidade de pagamento piora, o que leva os investidores a procurarem ativos mais seguros, como o dólar. O dólar sobe, alimentando a inflação. Os preços sobem e o humor do eleitor piora. O Banco Central sobe o juro e compromete a capacidade de crescimento do país.
• Lula não enxerga que a economia é feita de vasos comunicantes, que moleza tributária é sempre paga pelos pobres. E que há certa perversidade em anunciar isenção de IR para a classe média junto com um pacote que piora as circunstâncias para os pobres.
• Lula não compreende bem o que é a cidadania. O país é de todos, todos devem contribuir. É razoável defender isenção para quem é realmente pobre, mas isenção para a classe média não tem cabimento.
• Lula parece que nunca se interessou por economia, mas ele tinha um faro político para as consequências de suas decisões. Parece ter perdido esse faro.
• Haddad é incapaz de se impor. O ministro FHC sempre deixou claro para Itamar Franco que se demitiria antes de permitir desajuste fiscal. O ministro Pedro Malan nunca precisou fazer a mesma coisa com FHC: o presidente sabia. Mas Haddad (como Paulo Guedes antes dele) aceita qualquer coisa que o chefe queira.
• Lula perdeu um gol feito, fez um tremendo gol contra e ainda deu um refresco a Jair Bolsonaro
Impressionante.
(Por Ricardo Rangel em 29/11/2024)