Lula parece que quer eleger Bolsonaro
O discurso de Lula afasta os votos de que precisa e atrai os que já tem
Nas últimas semanas, Jair Bolsonaro tratou o general Joaquim Silva e Luna como pano de chão, fritou-o a não mais poder, e, no fim, demitiu-o de maneira humilhante.
Como se não bastasse Silva e Luna ser um general de quatro estrelas, ele é também ex-ministro da Defesa: o tratamento dispensado a ele por Bolsonaro deixou muita gente nas Forças Armadas incomodada.
Era um excelente momento para Lula demonstrar solidariedade aos militares e tentar se aproximar das Forças Armadas, mostrando que elas não têm motivo para temê-lo.
E o que faz Lula?
Faz um discurso para sindicalistas e promete demitir 8 mil militares da máquina estatal.
Ainda que seja mesmo necessário demitir muitos militares do governo (principalmente os da ativa), o que Lula ganha em hostilizar militares neste momento?
Com a diferença entre Lula e Bolsonaro caindo, o petista precisa acenar ao centro e até à centro-direita civilizada. Mas Lula quase que só se encontra com a esquerda, e, quando a encontra, faz um discurso incendiário (prometendo quebrar teto de gastos, revogar reformas, interferir na Petrobras), que é gravado e veiculado nas redes. Nas raras vezes em que há contatos com outros setores, ou é em pequenos grupos a portas fechadas, ou é por meio de emissários (que, como se sabe, estão longe de representar efetivamente o chefe).
Ora, os votos da esquerda, Lula já tem. Se o petista explicar desde já a importância estratégica de defender a democracia, a nação petista pode entender ou não, mas vai continuar votando nele, porque não tem alternativa. Não há de votar no PCO ou no PSTU.
São os votos do centro e da centro-direita que Lula tem que atrair. E dificilmente os atrairá com um discurso incendiário e promessas vagas, que ninguém vê, de moderação ou com emissários.
A aposta de Lula é mobilizar a militância aguerrida agora e conquistar os votos ao centro mais tarde.
Pode ser tarde demais.