Lula acertou uma, afinal. Pero no mucho.
Na sexta passada, a oposição apresentou a Corina Yoris como candidata à eleição presidencial na Venezuela. Ato contínuo, o sistema de inscrição para os candidatos à eleição parou de funcionar. Yoris foi impedida de se registrar.
O Itamaraty publicou nota dizendo que “o governo brasileiro acompanha com expectativa e preocupação” o desenrolar do processo eleitoral na Venezuela. E constata que o fato de Yoris ser impedida é incompatível com as regras combinadas. (Popularidade em queda faz coisas incríveis).
Foi um reparo suave, mas é uma mudança de padrão. Até hoje, Lula nunca fez coisa diferente de defender e professar amor eterno aos ditadores venezuelanos Maduro e, antes dele, Hugo Chávez.
Há apenas três semanas, a então principal candidata de oposição, Corina Machado, foi tornada inelegível por 15 anos. Lula ironizou o fato com uma grosseria: “eu fui impedido de concorrer nas eleições de 2018; em vez de ficar chorando, eu indiquei um outro candidato, que disputou as eleições”. (Levou um pito de Corina, por sinal.)
Além de suave, o reparo veio com uma ressalva: a nota termina com um repúdio “a quaisquer tipos de sanção que, além de ilegais, apenas contribuem para isolar a Venezuela e aumentar o sofrimento do seu povo”.
Ou seja, o governo acompanha com preocupação o fato de Maduro estar melando a eleição, mas só é isso. Não está disposto a nada mais do que se preocupar.
O amor de Lula por ditadores (ditadores venezuelanos em particular) é uma coisa curiosa.
Lula e Celso Amorim acreditam que existe um “Sul global”, um cepalismo extremo, que supõe que países em desenvolvimento têm os mesmos interesses, opostos aos dos EUA e da Europa (que são imperialistas e do mal). Por esse motivo, os maiores dentre esses países, como Brasil, Venezuela, Irã, Rússia ou China, são aliados naturais.
Ocorre, entretanto, que os ditadores desses países não acreditam em nada disso. A Venezuela é uma cleptocracia, e o único objetivo de Maduro é ficar no poder para enriquecer a si mesmo e a sua curriola. O Irã é uma teocracia xiita que luta para ser a principal potência do mundo muçulmano. Putin, além de enriquecer, pretende reconstruir o Império Russo. A China quer ultrapassar os EUA para se tornar a maior potência econômica do mundo.
Lula e Celso não enxergam que a vocação natural do Brasil é integrar o mundo das democracias liberais ocidentais. E em muito nos prejudicam com sua insistência na alucinação do “Sul global”,
(Por Ricardo Rangel em 27/03/2024)