Em sua fuga do presídio “de segurança máxima” de Mossoró, os prisioneiros abriram dois buracos (estavam em celas separadas) no teto (não era reforçado), acharam um alicate (“esquecido” num canteiro de obras) e com ele cortaram o alambrado (não havia muralha). Saíram com tranquilidade, sem que ninguém os visse.
Foram ajudados por luzes apagadas, câmaras desligadas e a desatenção dos agentes (que não prestaram atenção no que outras câmaras, essas ligadas, registravam), e só se deram conta da fuga duas horas depois. E, possivelmente, por alguém mais.
Diante do escândalo, o ministro da Segurança recém-empossado, Ricardo Lewandowski, tomou a sensata decisão de destituir a diretoria, nomear um interventor e determinar uma série de medidas para aumentar a segurança e encontrar os fugitivos. Aplauda-se o ministro, que tomou as providências adequadas.
A sensatez acabou aí. Lewandowski em seguida deu uma entrevista afirmando que “foi uma série de coincidências negativas e casos fortuitos”, “um caso episódico, localizado e fortuito”, que ocorreu no carnaval, “quando as pessoas estão mais relaxadas”.
Ou seja, é assim mesmo. Essas coisas acontecem. É a vida.
“Podem confiar nesse sistema”, recomendou Lewandowski. “O sistema é absolutamente seguro”
Para o ministro, “absolutamente” é tão absoluto quanto “máxima”. Significa “até certo ponto”. Com a entrevista, Lewandowski eliminou a boa impressão inicial e fortaleceu as convicções de quem acredita que ele não é a pessoa adequada pra cuidar da segurança de um país onde segurança é item crítico.
Na entrevista que nos concedeu no programa Os Três Poderes, Sergio Moro — que além de ministro da Justiça, foi juiz corregedor da prisão de segurança máxima de Catanduvas — informou que algumas das falhas descobertas em Mossoró chegaram a seu conhecimento quando ainda ministro. E estavam sendo sanadas quando de sua demissão. Ele não sabe por que não o foram, mas sabe que o orçamento para o setor não foi cumprido. O fato é que em dois anos e meio de governo Bolsonaro e um ano de governo Lula, ninguém se deu ao trabalho de maximizar a segurança do presídio “de segurança máxima”.
Os detalhes da fuga mais uma vez demonstram o que todo mundo já sabe: o país não dá à segurança a prioridade adequada. A direita acha que basta enfiar os “vagabundos” na cadeia (onde se unem a facções criminosas), a esquerda acha que segurança é assunto da direita, e nenhum dos lados enfrenta a discussão sobre as drogas. Nem Lula nem Bolsonaro tirou o Susp do papel, e ambos fizeram o possível para empurrar o problema para os governadores.
O histórico do país é que, passada a comoção da sociedade, a prioridade dada à segurança volta a ser o que sempre foi.
Não há motivo para acreditar que desta vez será diferente.
(Por Ricardo Rangel em 16/02/2024)