Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana

Ricardo Rangel

Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Continua após publicidade

Fake news e liberdade de expressão

As redes de desinformação são a maior ameaça a democracia em décadas

Por Ricardo Rangel Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 13h42 - Publicado em 31 jul 2020, 06h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Ainda que as contas bolsonaristas tiradas do ar por Alexandre de Moraes não fossem, em geral, usadas para expressar opinião, mas para cometer fraude, a decisão do ministro cerceia a liberdade de expressão e abre perigoso precedente — não se combate crime ao arrepio da Constituição.

    É preciso frisar, no entanto, que se trata de crime fora do comum e extraordinariamente difícil de combater.

    A liberdade de expressão não está na Constituição apenas porque alguém tem o direito de dizer o que pensa (afinal, os outros têm o direito de não ser ofendidos), mas porque a livre exposição de ideias é de interesse da sociedade: quando ela ocorre, os argumentos falsos são desmascarados, as boas ideias prosperam, as ruins são descartadas, a chance de alcançar a verdade cresce.

    Nas redes sociais, entretanto, informações verdadeiras e falsas não têm chances iguais: as falsas são mais interessantes, geram mais likes e compartilhamentos, viajam muito mais rápido. E, como viajam dentro de bolhas, fora da vista de todos, não são desmascaradas.

    “As notícias falsas são mais interessantes, geram mais likes e compartilhamentos, viajam mais rápido”

    Continua após a publicidade

    É um campo fértil para redes de desinformação, que — explorando big data, estatística, psicologia e fragilidades nas redes sociais — impedem o contraditório, monopolizam o discurso e manipulam opiniões. A liberdade da falsa expressão das redes sociais com frequência leva ao estabelecimento da mentira como “fato”, a ponto de o célebre aforismo de Daniel Moynihan (“todos têm direito à própria opinião, mas não a seus próprios fatos”) deixar de valer. A desinformação leva à crença de que existe kit gay, de que a cloroquina funciona, de que o establishment não deixa Bolsonaro governar.

    A rede de desinformação bolsonarista demonstrou o problema logo após a decisão de Alexandre de Moraes, ao caluniar Felipe Neto: em menos de 24 horas, a equipe do youtuber derrubou mais de 1 000 vídeos falsos que o acusavam de pedófilo. Esses vídeos — e outros, que não foram derrubados (no WhatsApp é impossível derrubar o que quer que seja) — alcançaram milhões de pessoas, grande parte das quais jamais saberá que são falsos.

    Bolsonaro usou um órgão público, a AGU, para defender o interesse privado de seus apoiadores (e o seu próprio): é um ato inconstitucional como o de Alexandre de Moraes, mas, enquanto o ministro fere a Constituição para coibir crimes, o presidente o faz para dar impunidade aos criminosos. Bolsonaro afirma defender a liberdade de expressão, o que, dado seu cacoete de atacar a livre imprensa e recorrer à Lei de Segurança Nacional para tentar calar adversários, seria divertido se não fosse ultrajante.

    Continua após a publicidade

    As redes de desinformação são a maior ameaça à democracia em muitas décadas, mas a solução para o problema não implica a suspensão de garantias constitucionais — medida, de resto, pouco eficaz e até contraproducente, pois alimenta o discurso vitimista e anti-establishment de Bolsonaro. Implica, sim, a criação de lei específica — aliás, já em discussão no Congresso —, que, diferentemente do que quer fazer crer a rede de desinformação bolsonarista, não é (nem pode ser) sinônimo de censura.

    Publicado em VEJA de 5 de agosto de 2020, edição nº 2698

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Semana Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    Apenas 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

    a partir de 35,60/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.