Braga Netto levou mesmo muito azar
Quanto mais os generais do Alto Comando rezam, mais assombração lhes aparece.
A Polícia Federal investiga a compra de coletes à prova de bala feita pelo Gabinete da Intervenção Federal (GIF) no Rio de Janeiro (2018). A suspeita é que tenha havido crimes de patrocínio de contratação indevida, dispensa ilegal de licitação, corrupção ativa e passiva e organização criminosa supostamente praticadas por servidores públicos federais.
Quem assinou a contratação foi o chefe do GIF, general Walter Braga Netto. O general assinou um contrato sem licitação. Foi com uma empresa tão idônea, mas tão idônea, que pouco mais tarde participaria do assassinato do presidente do Haiti e de uma tentativa de golpe de Estado.
Braga Netto prometeu “dar uma força” aos agora alvos da PF. Um desses alvos afirmou que “02 do Exército Brasileiro [em referência ao interventor, Braga Netto] está do nosso lado”. Braga Netto fez um jantar em sua casa para os tais alvos, lobistas brasileiros da tal empresa. Braga Netto assinou o contrato no último dia da intervenção federal do Rio.
O general diz que não houve irregularidade. Ou seja, ele deu azar.
Fala sério: Braga Netto deu muita chance ao azar.
O general vai em frente e diz que, como a operação foi cancelada e o dinheiro, devolvido, não houve prejuízo. Ou seja, está tudo certo, fica o dito pelo não dito.
Menos, general. Se o sujeito rouba um Rolex, por exemplo, vende, depois recompra e devolve, o roubo não desaparece. Sem falar que quem rouba relógio pode roubar outras coisas, como joias e esculturas.
Ainda é cedo para saber se foi muito azar ou outra coisa, digamos, menos aleatória.
O que se sabe é que Braga Netto, antes coadjuvante nas confusões de Bolsonaro, tornou-se protagonista de um escândalo novo e altamente constrangedor. A delação de Mauro Cid ainda promete aumentar o fogo sob a frigideira de Braga Netto, mas o que a PF está desvendando no momento nada tem a ver com Cid ou Bolsonaro. O escândalo de agora aconteceu quando o presidente era Temer. O general ainda estava na ativa e era integrante do Alto Comando.
Não vai ficar sobrar só para ele, claro. Braga Netto nomeou uma penca de militares para o GIF. Vão sobrar pelo menos estilhaços para oficiais como os generais Richard Nunes (quatro estrelas, atualmente no Alto Comando) e Mauro Sinott (três estrelas), ambos ainda na ativa.
Para piorar, mas como não poderia ser, há militares também do outro lado do balcão. Representando os clientes, estão oficiais como o general Paulo Assis e os coronéis Glaucio Guerra e Robson Queiróz, todos investigados pela PF.
Quanto mais os o comandante do Exército, Tomás Paiva, reza, mais assombração lhe aparece.