Se alguém ainda tinha alguma dúvida, o segundo turno confirmou: Jair Bolsonaro é o maior perdedor dessa eleição.
Assim como Lula elegeu um único prefeito de capital (em Fortaleza), o bolsonarismo raiz elegeu um único prefeito de capital: Abílio Brunini, em Cuiabá — os outros três eleitos pelo PL se identificam mais com o Centrão do que com o ex-presidente.
Mas a derrota de Bolsonaro vai bem mais longe do que a de Lula. Em São Paulo, o ex-presidente poderia ter faturado a eleição de Ricardo Nunes, mas, diante da ameaça de Pablo Marçal, preferiu se omitir. Entregou, de mão beijada, os louros da vitória a Tarcísio de Freitas.
Em Curitiba, apostou em Cristina Graeml contra seu antigo aliado Ratinho Júnior e contra seu próprio partido — e não só perdeu como ganhou fama de traidor. Em Goiânia, ficou em campo oposto a seu antigo aliado, Ronaldo Caiado, com quem brigou feio — e perdeu.
Bolsonaro sempre tratou seus principais aliados como reféns: gente como Valdemar da Costa Neto, Tarcísio, Caiado, Ratinho e outros (que nunca foram bolsonaristas raiz) mantinha-se com ele porque afastar-se dele era sinônimo de derrota eleitoral. Isso mudou: 2024 mostrou que agora é possível vencer sem o apoio do ex-presidente. Ou mesmo contra ele.
Bolsonaro está fora do poder, foi proibido de se candidatar e pode ser preso a qualquer momento. Não é o melhor momento para perder amigos poderosos.
Mas é exatamente isso que deve acontecer.
Em alguns casos, já aconteceu.
(Por Ricardo Rangel em 28/10/2024)