Bolsonaro anuncia a mais insana das viagens
Ao anunciar sua ida a Moscou, o capitão demonstra mais uma vez que a racionalidade não é seu forte
A Rússia tem mais de 100 mil soldados estacionados na fronteira com a Ucrânia. Vladimir Putin ameaça invadir o país a qualquer momento.
Uma agressão não provocada a um país europeu é uma agressão a toda a Europa, e também a seu principal aliado, os EUA. Trata-se da pior crise diplomática vista no mundo desde os mísseis de Cuba, há 60 anos. Se a guerra de fato ocorrer, ninguém sabe quanto tempo durará — a Ucrânia dá mostras de que está disposta a resistir —, mas sabe-se que as consequências humanas e econômicas para o mundo inteiro serão gravíssimas.
Esse é o contexto em que Jair Bolsonaro teve a brilhante ideia de anunciar sua ida a Moscou.
Demonstrar apoio a Putin no momento em que ele ameaça se lançar em uma guerra de conquista é imperdoável do ponto de vista dos EUA e da Europa, nossos principais parceiros além da China. Com essa viagem, temos muito a perder e nada a ganhar (a Rússia está em 33º lugar em nossa balança comercial, e o saldo é negativo).
Como se já não fosse ruim o suficiente, a chance de Putin invadir a Ucrânia enquanto Bolsonaro estiver lá é significativa. Se isso acontecer, será o maior dos pesadelos diplomáticos.
A viagem é um erro tão grave e profundo, pode ter consequências tão negativas para o Brasil, que os ministros das Relações Exteriores, da Defesa, da Agricultura e da Economia deveriam ameaçar se demitir em protesto (como o governo Bolsonaro é o que se sabe, os quatro estão na comitiva presidencial). Já os militares brasileiros, que tanto apoiaram e ainda apoiam Bolsonaro, não podem se demitir, mas é inconcebível que estejam vendo essa viagem insana com bons olhos.
Qualquer presidente minimamente racional, especialmente se em campanha pela reeleição, manteria distância de um potencial conflito bélico envolvendo EUA, Europa e Rússia.
Mas “racionalidade”, ainda que mínima, e “Bolsonaro” são palavras que não costumam frequentar as mesmas frases.