Na sexta-feira passada, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, recebeu, a portas fechadas, representantes do mercado financeiro.
O que foi discutido vazou (e vazou errado), o dólar e os juros futuros dispararam, a bolsa desabou, foi uma confusão. Indignado com o que chamou de “vazamento de informação falsa”, o ministro foi obrigado a dar entrevista coletiva para corrigir a “interpretação errônea”.
É surpreendente que um político experiente como Haddad tenha cometido um erro tão pueril.
Não se faz reunião a portas fechadas com banqueiro.
Primeiro, porque, se não existe motivo concreto para a reunião ser secreta, o princípio constitucional da transparência determina que a imprensa deve ser convidada.
Segundo, porque está na cara que vai vazar. E, ao vazar, vai ter impacto no mercado financeiro, que é por natureza um setor extremamente sensível a fofocas e incerteza (“na dúvida, venda”).
Terceiro, porque banqueiro tem má reputação, vive sendo acusado de social e economicamente inútil (falso) e ganancioso (verdade, mas qual é a grande indústria que não o é?). No discurso da oposição, reunião secreta do governo com banqueiro é sempre conspiração para prejudicar o pobre. Haddad deveria saber dessa circunstância, seu próprio partido repete essa baboseira há mais de 40 anos.
Não foi o caso, felizmente, mas, dependendo das circunstâncias, mancadas como a de sexta-feira podem até derrubar ministro.
Reunião de ministro da Fazenda (ou de presidente do Banco Central) com banqueiros a portas fechadas tem que ter motivo forte e concreto. Nesse caso, o forum deve se limitar aos CEOs, sendo os celulares recolhidos na porta. E os participantes alertados de que qualquer um que vaze informação se arrisca a ser processado criminalmente.
Fora disso, é a certeza do desastre.
(Por Ricardo Rangel em 10/06/2024)