Uma doença do espírito
O petismo é uma doença do espírito e, não por acaso, progride mais na classe média do que entre os pobres — refiro-me ao “petismo”, não aos “eleitores do PT”, que são outra coisa. Estes têm um comportamento típico da massa em qualquer país do mundo: ora vota aqui, ora vota ali. Tudo depende de […]
O petismo é uma doença do espírito e, não por acaso, progride mais na classe média do que entre os pobres — refiro-me ao “petismo”, não aos “eleitores do PT”, que são outra coisa. Estes têm um comportamento típico da massa em qualquer país do mundo: ora vota aqui, ora vota ali. Tudo depende de um punhado de fatores conjunturais.
O que me interessa são os quadros de militância média, não-dirigentes. O que me interessa é esse professor de geografia ou de história que entra na sala de aula disposto a fornecer “consciência crítica” àquilo que chamam “educando”.
Lembram-se da máxima de Mencken? Para cada problema complexo, há sempre uma solução fácil, clara e errada. Não é o que essa gente vive propondo em sala de aula? Ora, é preciso explicar o funcionamento da sociedade capitalista (nota: na sétima série, numa aula de geografia, é o momento de fazê-lo?)? Então por que não recorrer a um pastiche submarxista da década de 80 (o tal livro Capitalismo para Principiantes), que transforma o mundo numa fábula do Lobo Mau e, literalmente, do Chapeuzinho Vermelho?
Observem: em vez de o aluno ser convocado a operar com variáveis mais complexas, dá-se uma regressão: o mundo é movido pela luta do Bem contra o Mal — e com a má notícia, não é? O Mal — no caso, o capitalismo — venceu.
Tenho duas filhas, uma de 10 e outra de 12 anos. É nessa idade, creio, que crescer dói mais. Justamente porque as crianças começam a se dar conta da complexidade moral do mundo. As escolhas não são mais ditadas pelos contrastes violentos da fábula. Ao contrário: uma amiga tem tais qualidades, mas os defeitos… Aquelas compensam estes? Mas elas próprias também não portam características que aos outros constrange? Como articular diferenças, ser tolerante, conviver?
Nada disso! Nas aulas de história e de geografia, o mundo retorna ao jardim da infância. A realidade está dominada por bruxas, e um dia virão as fadinhas para redimir os justos. Nesse caso, é inescapável observar: Lula seria a própria realização dessa fantasia.
A infantilização chega à universidade. O que se quer é produzir militantes, não pensadores; agentes da transformação, não pesquisadores. Dêem-me uma boa razão para que não exista, sei lá, o Data-USP, o maior e mais capaz instituto de pesquisas do país juntando as experiências dos cursos de sociologia e matemática. Os simples dirão: falta dinheiro. Mentira! Falta demanda intelectual interna.
O mercado de gente que se apresenta para “mudar a realidade” está saturado. Falta quem queira compreendê-la, invertendo aquela máxima bucéfala e obscurantista de Marx.