Por Laryssa Borges, na VEJA.com:
Contando com o histórico corporativismo entre parlamentares, o ex-senador Gim Argello elencou 15 deputados e senadores para depor como testemunhas de defesa no processo em que é acusado de cobrar propina para barrar depoimentos em duas CPIs da Petrobras. Réu na Operação Lava Jato, Gim contava que congressistas do PSD, PMDB, PT, PDT, PV, DEM, PSDB, PSB e PP pudessem depor em seu favor e envernizar seu currículo com loas a um suposto profissionalismo como parlamentar.
O que ele não esperava é que pelo menos dois senadores – Paulo Paim (PT-RS) e João Alberto Souza (PMDB-MA) – pediram para ficarem longe do caso. Além de alegarem não ter qualquer conhecimento do esquema de corrupção e cobrança de pedágio de empreiteiros nas CPIs, Paim e Souza apresentaram as mais diversas desculpas para tentarem ser dispensados. Disseram que precisam trabalhar no processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff e votar medidas para solucionar a crise econômica. A breve ausência do Senado para os depoimentos, disseram, “acarretará graves prejuízos ao exercício da atividade parlamentar”.
“É de conhecimento público a série de demandas que o Senado Federal está enfrentando no momento, como o histórico processo de impeachment e a busca de soluções para a crise financeira que se encontra o país. Furtar um senador da República dessas atividades imprescindíveis à condução do país para sua oitiva em um processo que manifestamente não tem nada a acrescentar não é compatível com as finalidades do processo penal”, afirmaram os dois em ofício do juiz Sergio Moro. E mais: alegaram que, por terem “reputação ilibada e conduta irrepreensível”, seus depoimentos serviriam apenas para que a defesa de Gim Argello buscasse referências positivas para anexar ao processo contra o ex-senador.
“Ostento reputação ilibada e conduta irrepreensível, como é de conhecimento público. Isto influencia diversas pessoas a me arrolarem como testemunha de defesa em processos dos mais variados, principalmente na condição de ‘testemunha de caráter’ ou ‘testemunha de referência’, como o presente caso aparenta ser”, afirmaram os dois senadores a Moro. Mesmo com a recusa inicial, os advogados insistem na presença dos dois. “Como membros da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, participaram dos trabalhos realizados, podendo, certamente, contribuir para a elucidação dos fatos ora investigados, em especial, como se deram os andamentos dos trabalhos realizados pela citada Comissão”, afirmaram os advogados. A presença ou não dos dois senadores como testemunhas será decidida pelo juiz Sergio Moro.
De acordo com os investigadores da Lava Jato, Gim Argello, durante o mandato de senador, pediu que dirigentes de empreiteiras pagassem propina para que não fossem convocados a prestar depoimentos em 2014 na CPI da Petrobras no Senado e na CPI mista que investigava irregularidades relacionadas à petroleira. Na condição de vice-presidente das duas comissões de inquérito, o hoje ex-senador recebeu pelo menos 350.000 reais de Leo Pinheiro, da OAS, por meio de repasses à Paróquia São Pedro, em Taguatinga (DF), e 5 milhões de reais disfarçados de doações eleitorais da UTC.
Além de Pessoa, Argello também pediu propina a Marcelo Odebrecht, de quem foram cobrados – e aparentemente não pagos – outros 5 milhões de reais, de Otávio Marques de Azevedo, então presidente da Andrade Gutierrez – mais 5 milhões de reais -, de José Antunes Sobrinho, da Engevix, e de Gustavo Marques de Azevedo, da Camargo Correa. O Ministério Público mapeou ainda a atuação de Gim na cobrança de vantagens indevidas também dos lobistas Augusto Ribeiro de Mendonça Neto e Julio Camargo, vinculados na época à Toyo Setal. Ao final, pelo menos no caso dos dois operadores, foram pagos 2 milhões de reais em doações eleitorais a partidos indicados pelo parlamentar e 200.000 reais e 200.000 euros a auxiliares do então senador. Gim foi preso na 28ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada no dia 12 de abril e batizada de Vitória de Pirro.