Não existe um programa de combate ao crack descolado de um programa de combate ao consumo de drogas e repressão ao tráfico. Ou existe a ilusão de que se pode fazer distinção entre as drogas? “Olhem, maconha, tudo bem. Mas o crack…” É tudo parte de um mesmo balaio, de uma mesma cultura, de uma mesma “procura” e de um mesmo crime. No post acima, trato da desídia e da irresponsabilidade do governo federal na área. E já assistimos também ao acinte. Vejam ou revejam este vídeo, sobre o qual já escrevi aqui. Poderia ser usado pelos marqueteiros do governo…
httpv://www.youtube.com/watch?v=HLWUk4H2BWI&feature=player_embedded#!
Escrevi no dia 10 de setembro do ano passado o que segue em azul:
Houvesse juízes no Brasil em número — e coragem — suficiente, o [então] ministro Carlos Minc, do Meio Ambiente, seria condenado à pena de um a três anos de cadeia. Se iria em cana ou não, bem, aí dependeria de um conjunto de fatores: eu seria tentado a trocar a punição por trabalho. Isto: Minc seria obrigado à maldição bíblica. Teria de ganhar o pão com o suor do próprio rosto. Só pra saber como é.
Cana por quê? Ele tem de ser enquadrado no parágrafo 2º do artigo 33 da Lei 11.343, que trata do combate às drogas. No domingo, no show de um grupo de reggae chamado Tribo de Jah, na cidade de Alto Paraíso, perto da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, o valente subiu ao palco para pregar a descriminação da maconha. Pregou só a descriminação? Ora, vejam o vídeo vocês mesmos. Minc fazendo um discurso daquele na Chapada dos Veadeiros vale por uma celebração metalíngüística.
Algumas pessoas ficam com a voz embargada de emoção. Minc é do tipo que fica com a voz pastosa. Engrolando aquela língua estranha, que rompe com a lógica e vai juntando alhos com bugalhos, o ministro subiu ao palco e deu vivas a Bob Marley, a Chico Mendes, à Paz, à resistência e conclamou: “Não vamos deixar queimar a Amazônia”. Parecia discurso de gente chapada.
E isto, gente! Nada de queimar a Amazônia!
Minc não queima a Amazônia!
De jeito nenhum! A Amazônia, Minc não queima!
(…)
Vamos acabar com a impunidade. Daí a importância da música, a consciência da rapaziada. Vamo defender o cerrado, a caatinga, a Amazônia, a Mata Atlântica e o o reggae, o reaggae é a liberdade.
Um maluco gritava:
– A Maconhaaaa!!! E o pré-sal!!! O pré-sal!!!
Voltemos com Minc.
Outro recado. Ontem, a gente meteu três a um na Argentina. Só que tem um outro placar que a gente ta perdendo da Argentina. Os juízes da Argentina descriminalizaram o usuário. O usuário não é criminoso. E esse jogo, a gente está perdendo aqui. Nós vamos virar esse jogo. Nós vamos acabar com a hipocrisia. Consciência! (…) Viva a Tribo de Jah! Viva a consciência ecológica! Viva a natureza! Viva a liberdade!
Espertinho, Minc não pronuncia a palavra “maconha”. Deixa pra galera!
(…)
Marcha
No dia 9 de maio do ano passado, Minc participou da Marcha da Maconha, no Rio. Afirmou, como não poderia deixar de ser, que estava lá como cidadão, não como ministro. Claro!!! Pergunta: quando ele chegou ao ministério no dia seguinte, aquele que sentou à cadeira para trabalhar era ou não o que tinha ido à manifestação no dia anterior? Continuou no cargo. O combate às drogas não parecia, então, para o governo Lula uma urgência.
Antes que me encham: FHC andou defendendo a descriminação do uso da maconha. Embora não tenha ido a marcha nenhuma, muito menos ocupando cargo público, está absurdamente errado. Sou um grande admirador de sua obra, a intelectual e a política, mas tenho compromisso com seus acertos, não com seus erros.
Encerro
O vídeo e a participação do então ministro na tal marcha evidenciam o real compromisso do governo com o combate às drogas. Na boca da urna, Lula resolveu mobilizar as famílias brasileiras; antes, ele as deixava entregues ao rebolation do fumacê retórico de Minc na Chapada dos Veadeiros.