Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Reinaldo Azevedo Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Blog
Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
Continua após publicidade

Paulo Roberto põe Renan entre mentores do esquema. Ou: A síntese de um depoimento confuso

Vou aqui tentar fazer uma síntese do longo depoimento de Paulo Roberto Costa à CPI do Petrolão, por temas. É evidente que o que ele diz tem de ser investigado, sempre destacando que o homem não é um professor de educação moral e cívica ou de ética. Comecemos pelas acusações mais graves. Campanha de Dilma […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 01h28 - Publicado em 6 Maio 2015, 06h07

Vou aqui tentar fazer uma síntese do longo depoimento de Paulo Roberto Costa à CPI do Petrolão, por temas. É evidente que o que ele diz tem de ser investigado, sempre destacando que o homem não é um professor de educação moral e cívica ou de ética. Comecemos pelas acusações mais graves.

Campanha de Dilma em 2010
Paulo Roberto Costa reafirmou que Antonio Palocci lhe pediu R$ 2 milhões para a campanha de Dilma em 2010. Alberto Youssef teria ficado de repassar o dinheiro, mas o doleiro, que também fez delação premiada, diz não ter feito isso. Um inquérito investiga Palocci. Dilma não é investigada.

Renan e Humberto Costa entre os mentores
Indagado por um deputado sobre quem era o mentor do esquema, Costa lista uma série de políticos: “Do PP, começou com o deputado José Janene (PR); prosseguiu depois com o deputado Mário Negromonte (BA); prosseguiu depois com o senador Ciro Nogueira (PI). Do PMDB, senador Renan Calheiros (AL), deputado Aníbal Gomes (CE). Do PT, tive contato e ações com o senador Lindbergh (Farias) (RJ), com o senador Humberto Costa (PE)… O senador Romero Jucá (RR), tivemos contato com ele, e também o [ex]ministro Edson Lobão [Minas e Energia]”.

A tese do cartel
Paulo Roberto Costa construiu o seu discurso para transformar a Petrobras em vítima da ação do suposto cartel das empreiteiras, embora ele fizesse parte da equipe que determinava preços, distribuía obras e decidia o valor da propina. Mais de uma vez, cantou as glórias da empresa e a sua seriedade, exaltando seus mecanismos de controle. Santo Deus!

O bom ladrão
Reproduzindo uma conta que está na imprensa, afirmou que pelo menos R$ 60 bilhões da dívida da Petrobras se devem à defasagem do preço dos combustíveis. O corrupto preocupado com os destinos da empresa diz ter apresentado proposta para corrigir a defasagem, com o apoio de José Sérgio Gabrielli, então presidente da Eetatal, mas sem sucesso.

Continua após a publicidade

Consciência culpada
O homem que lucrava milhões com o que chama cartel diz ter pensado em chamar outras empreiteiras para tocar as obras, mas afirmou que as que já estavam no negócio diziam que elas não conseguiriam fazer o trabalho.

Os políticos
O engenheiro culpou os maus políticos pela lambança na Petrobras. É claro que ele tem razão. A estatal serviu a um esquema de poder. Isso é evidente. Acontece que essa tese se choca justamente com a do cartel, não é? Ou bem este existe, e a estatal é uma de suas vítimas; ou bem a Petrobras era parte ativa na roubalheira, por meio de seus diretores — e era —, e o que se tem pode até ser formação de quadrilha, mas não cartel.

A propina
Paulo Roberto Costa já deu três versões para o valor da propina, embora insista que são uma só. Na primeira, afirmou que as empresas punham um sobrepreço nas obras para pagar os larápios; na segunda, disse que o dinheiro da sem-vergonhice saía do próprio lucro das empreiteiras; na última, veiculada nesta terça, tentou fundir as duas outras: o dinheiro dos corruptos sairia, sim, do lucro dos empreiteiros, mas, como eles formavam um cartel, então os preços já seriam naturalmente mais altos. O que não fecha na sua história? O óbvio: eram as empreiteiras que impediam a Petrobras de realizar uma real concorrência, ou era a Petrobras, por intermédio de seus diretores, que impedia uma competição honesta?

O reformador
Paulo Roberto estava à vontade no seu papel de conselheiro da República e, quem sabe, consultor. Vituperou contra o financiamento de campanha por empresas, abraçando uma tese que o PT levaria ao horário político pouco tempo depois. Segundo disse, se é para passar o Brasil a limpo, as doações têm de ser proibidas porque as empresas sempre procurarão um modo de recuperar o dinheiro.

Continua após a publicidade

Qualquer um que preste atenção à narrativa de Paulo Roberto vai acabar concluindo que há linhas contraditórias no seu depoimento, e isso, anotem aí, acabará sendo importante nos tribunais: ou bem a Petrobras tinha uma gestão política, que atendia a interesses partidários — e, a partir daí, os esquemas de corrupção operavam, inclusive das empreiteiras; ou bem essas empreiteiras se organizaram para tomar de assalto a Petrobras. Em qualquer dos dois casos, todos cometeram crimes. Mas a diferença não é irrelevante.

Caso se conclua que o núcleo da safadeza é político, então a estatal passa a ter uma gestão profissional, independente de quaisquer injunções que não sejam técnicas, e seus diretores não saberão distinguir senador, deputado ou tesoureiro partidário de um Zé Mané qualquer. Caso se conclua que a origem está num cartel, como querem Ministério Público e Justiça Federal do Paraná, então a Petrobras fica na mesma, e as empreiteiras de agora serão substituídas por outras, que entrarão na fila do guichê da delinquência.

É isso que alguns bocós não entenderam até agora. Ah, sim: a hipótese do cartel interessa aos tarados pelo estatismo. A hipótese do uso da empresa por um esquema de poder — que é fato — interessa a quem quer pôr bandidos na cadeia e a Petrobras nos trilhos.

Quanto ao financiamento de campanha, acho que o Brasil tem pensadores mais competentes do que Paulo Roberto.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.