Na manhã de hoje, publiquei um trecho da entrevista que Eric Hobsbawm, historiador marxista inglês, concedeu ao jornal Guardian, reproduzida pela Folha. Trata-se de uma cascata fenomenal, em que Karl Marx, o próprio, é reapresentado como visionário porque teria antevisto a globalização. Uau! Para quem não sabe, trata-se de uma alusão a um trechinho do pequeno Manifesto Comunista. Imaginem! Marx esmagou seus furúnculos anos a fio para escrever montanhas de páginas, coitado!, e acaba sendo exaltado por causa de umas três ou quatro. Sem contar que Camões previu a mesma coisa, mas em versos… Hobsbawm também é saudado como aquele que nunca desistiu da tese das crises cíclicas do capitalismo — e seria igualmente um visionário por isso. Pois é!
Se não me engano, e eu não me engano, na teoria marxista, as tais crises conduziriam esse “modo de produção” ao colapso. No mundo real, quem colapsou com as crises do capital foi o… socialismo! Algo saiu pela culatra… Mas os ingleses têm o direito de ter rainha, seus táxis, seus ônibus, sua batata com peixe e seus marxistas. Os povos e suas tradições… Encantador mesmo foi o elogio que o historiador fez à América Latina, onde, ele deixou claro, Lula é o grande destaque, a saber:
“Um bom exemplo é o Brasil, que tem um caso clássico de partido trabalhista nos moldes do fim do século 19 – baseado numa aliança de sindicatos, trabalhadores, pobres em geral, intelectuais e tipos diversos de esquerda – que gerou uma coalizão governista notável. E não se pode dizer que não seja bem-sucedida, após oito anos de governo e um presidente em final de mandato [a entrevista foi feita no final de 2010] com 80% de aprovação. Ideologicamente, hoje me sinto mais em casa na América Latina. É o único lugar no mundo em que as pessoas fazem política e falam dela na velha linguagem – a dos séculos 19 e 20, de socialismo, comunismo e marxismo”
Comento
Hobsbawm está coberto de razão. O PT é mesmo um partido típico do fim do século 19, e a América Latina é a única região do mundo onde se faz política falando a “velha linguagem”. O chato vai ser quando o século 21 vier cobrar o seu preço. Demora ainda um pouco, mas chega a hora.
Aplausos a Hobsbawm: Lula é um vanguardista do século 19!