Leiam isto. Volto em seguida.
Trata-se de trecho de uma reportagem da revista VEJA de maio de 2011 — há mais de três anos, portanto. Já volto ao ponto.
Não adianta! Eles não aprendem nada nem esquecem nada. Se faltava alguma evidência de que o Planalto havia montado um gigantesco esquema de marketing para tentar usar a Copa do Mundo para esmagar a oposição nas urnas — caso o Brasil vencesse a disputa, é claro! —, agora não há mais. Mesmo com a derrota humilhante, Dilma Rousseff passou o ridículo, nesta segunda, de convocar uma entrevista coletiva, acompanhada de 15 ministros, com um propósito: cantar as glórias do seu governo e demonizar a imprensa brasileira. Boa, claro!, é a Al Jazeera, a emissora do tirano do Catar. Afinal, para essa turma, a presidente diz o que bem entender. E ninguém contesta. Se bem que não foi muito contestada por aqui também, mesmo sem tiranos… Sigamos. O governo queria demonstrar que “o Brasil perdeu a taça, mas ganhou a Copa”, como resumiu Aloizio Mercadante, ministro-chefe da Casa Civil.
Afirmou a presidente: “Os vaticínios, os prognósticos que se faziam sobre a Copa eram dos mais terríveis possíveis. Começava com o ‘não vai ter Copa’ até ‘nós teremos a Copa do caos’. O estádio do Maracanã, que ontem foi palco de um evento belíssimo, ia ficar pronto só em 2038, ou 2024. Enfim, não ficaria pronto nunca”. Vamos ver.
Quem, com um mínimo de seriedade, afirmava o “Não vai ter Copa”? A imprensa? Não! A oposição? Não! Isso era coisa de grupelhos radicalizados de extrema esquerda com os quais, diga-se, Gilberto Carvalho estava negociando, conforme confessou em entrevista.
Mercadante resolveu fazer graça: “A revista de maior tiragem do Brasil fez uma manchete: ‘2038: por critérios matemáticos, os estádios da Copa não ficarão prontos a tempo’. Tinha uma foto do Maracanã, que vocês viram na final da Copa, a beleza não só daquela arena, mas também de todas as outras arenas que foram apresentadas. O jornal de maior tiragem do país, no dia de abertura da Copa, tinha a seguinte manchete: ‘Copa começa hoje com seleção em alta e organização em xeque“.
É evidente que o ministro está se referindo à VEJA e à Folha, que apenas cumpriram a sua função. Mercadante cita uma reportagem de capa da revista de maio de 2011. Ora, as obras estavam atrasadas mesmo. Lá está escrito: “Por critérios matemáticos, as obras não ficarão prontas a tempo”. E mais: “No ritmo atual, o Maracanã seria reaberto com 24 anos de atraso”. E é mais do que legítimo — na verdade, é uma obrigação — fazer a advertência. Por que o ministro não bate boca também com a Fifa, que, mais de uma vez, demonstrou irritação com o ritmo das obras? Chamava-se a atenção do governo e dos brasileiros para um fato. Se a imprensa ajudou a corrigir o ritmo das obras, ótimo!
Voltem ao trecho da reportagem que vai lá no alto. A reportagem de VEJA não antevê — quem costuma fazer previsões e ter antevisões no Brasil são Guido Mantega e Dilma Rousseff… — que não haverá Copa: chama a atenção para o atraso. Os números, de resto, são da Controladoria-Geral da União.
Mercadante estudou economia, não é isso? Deve ter passado por rudimentos de matemática, ao menos. Considerando as obras de mobilidade que não foram e não serão feitas, o prazo para a realização das obras se multiplicou ao infinito, senhor ministro! Deu pra entender ou quer que eu desenhe?
A conversa mole do governo na coletiva engana os trouxas sem memória. A situação era de tal sorte calamitosa que, em agosto de 2011, três meses depois da reportagem de VEJA, o governo instituiu o chamado RDC — Regime Diferenciado de Contratações Públicas — que praticamente jogou no lixo a Lei de Licitações para poder acelerar as obras. Dilma escamoteia na entrevista, ademais, que as obras em oito aeroportos ainda não foram concluídas: São José dos Pinhais (que atende Curitiba), Confins (Minas), Cuiabá, Fortaleza, Viracopos (Campinas), Manaus, Porto Alegre e Salvador.
A desonestidade intelectual não para por aí. VEJA listou os cinco fatores de atraso, todos eles escandalosamente verdadeiros, a saber:
Felizmente, isto sim, o Brasil tem uma imprensa vigilante — parte dela ao menos —, que chamou a atenção para os desastres que estavam em curso. Não custa lembrar, ademais, que naquele mesmo 2011, cinco meses depois da reportagem de VEJA, Dilma demitiu Orlando Silva, ministro do Esporte, e nomeou em seu lugar Aldo Rebelo.
Cardozo
A mais indigna das falas na coletiva, e isso não me surpreende, ficou com José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça. Referindo-se sabe-se lá a quais governadores, afirmou:“Há ainda hoje quem acredite que o governo federal deve passar recursos para os Estados fazerem a política da segurança pública”. Por que ele não diz quem pediu — e, pelo visto, não recebeu — recursos? Falo do que vi de perto: em São Paulo, enquanto a polícia se organizava para combater a baderna nas ruas, Gilberto Carvalho negociava, conforme confessou, com criminosos.
Eis aí. Provado está. Com a derrota acachapante, Dilma convoca uma entrevista coletiva com 15 ministros. Imaginem se o Brasil vence a Copa… A presidente tentaria mandar para o degredo os “inimigos da pátria”…