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Reinaldo Azevedo

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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura

O sem-superego

Todos temos culpas, limites, dificuldades para lidar com as censuras alheias… É isso o que nos forma, nos faz ser quem somos. Há uma luta permanente entre os nossos desejos e ambições pessoais e esse conjunto que nos põe freios. Na tripartição clássica, estabelecida por Freud: trata-se do Ego em permanente diálogo, nem sempre amistoso, […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 23h19 - Publicado em 17 ago 2006, 19h19
Todos temos culpas, limites, dificuldades para lidar com as censuras alheias… É isso o que nos forma, nos faz ser quem somos. Há uma luta permanente entre os nossos desejos e ambições pessoais e esse conjunto que nos põe freios. Na tripartição clássica, estabelecida por Freud: trata-se do Ego em permanente diálogo, nem sempre amistoso, com o Superego, cujo vórtice é a autoridade paterna. E há ainda o Id, o insondável, que vai se metendo no Ego, aparecendo aqui e ali, sempre por meio de símbolos. O nosso Id é o grande produtor de metáforas e lapsos. Um curto-circuito na relação harmoniosa entre esses Três Poderes da psique ou leva o sujeito para um analista ou o faz infernizar a vida alheia.

De todos, o que mais enche o saco do próximo é, quero crer, o sujeito com um superego esburacado. São as pessoas que não têm noção de limites. Se o Superego é severo demais, temos aquelas pessoas tímidas até o limite do sofrimento, ensimesmadas, incapazes de conviver com outros, de falar em público, de se expor. Não fazem mal nenhum a não ser a si mesmas. Mas há aquelas do Superego mínimo. Quando crianças, costumam infernizar a vida da mãe e das visitas; na casa de estranhos, vão logo abrindo a cristaleira — na hipótese de haver uma cristaleira — e quebrando o que encontram pela frente, diante do sorriso complacente dos pais. Costuma haver um histórico de pai ausente ou muito autoritário, que não estabelece com a criança, especialmente o menino, uma relação de camaradagem.

Esses garotos tendem a percorrer uma trajetória inversa à do pai, para contestá-lo, mas buscando chegar ao mesmo lugar e, se possível, superá-lo. Não sei se é mesmo esse o caso do senador Aloizio Mercadante, filho do general Oliva, um militar que apoiou com entusiasmo o golpe militar de 64. O filho, como se vê, foi para a esquerda. Mas teria se tornado um democrata? Teria aprendido a ter limites?

Ontem, o filho do general inventou que o tucano José Serra discriminava nordestinos. Hoje, está garganteando por aí, indagando onde está o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que não participa da campanha. Ele o faz porque está tentando omitir uma obviedade: ele não existe como candidato autônomo. Existe a campanha de Lula, em quem ele se escora, oferecendo-se para ser seu esbirro em São Paulo caso o Apedeuta seja eleito.

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Senador por São Paulo, Mercadante nunca deu um pio sobre o vergonhoso corte de verbas federais para a segurança no Estado. Pior: era líder do governo na Casa e, portanto, ele o apoiava. Por que os tucanos não dizem isso claramente eu não sei. Desisti de entendê-los faz tempo. Mais ainda: o sem-limites apoiou um projeto de Sarney que criava uma zona franca em metade do território nacional. Seria o fim de São Paulo, acreditem — e também do Brasil.

Mercadante é aquele capaz de defender a ausência de Lula em um debate e cobrar a de Serra — em nome da democracia. A exemplo do garoto malcriado, que não foi repreendido pelo pai e, portanto, não internalizou as censuras da civilização na forma de educação, ele não está preocupado com a coerência dos seus atos. O que vier está de bom tamanho. Passeando ao lado de um mensaleiro, tem o topete de se dizer defensor dos oprimidos e de acusar o adversário de preconceito.

É certo que ele o faz com a ajuda, a colaboração ativa mesmo, da banda podre da mídia e de alguns ongueiros. Não, Mercadante não leu São Paulo, o apóstolo que dá nome ao Estado que ele não vai governar: posso tudo, mas nem tudo me convém. A Mercadante, tudo convém. É uma sorte nossa que ele, a exemplo dos generais do passado, não possa tudo.

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