Nós e a juíza que honra o estado de direito e a democracia
Publiquei ontem aqui a excelente entrevista da juíza Márcia Mathey Loureiro, que deu a sentença de reintegração de posse da área conhecida como Pinheirinho, em São José dos Campos. Se você ainda não assistiu, ouso dizer que é obrigatória. Há muito não via um juiz no Brasil se expressar com tamanha clareza e com argumentos […]
Publiquei ontem aqui a excelente entrevista da juíza Márcia Mathey Loureiro, que deu a sentença de reintegração de posse da área conhecida como Pinheirinho, em São José dos Campos. Se você ainda não assistiu, ouso dizer que é obrigatória. Há muito não via um juiz no Brasil se expressar com tamanha clareza e com argumentos tão cristalinos em defesa do estado democrático e de direito. E, por isso, eu e muitos leitores a elogiamos bastante.
Sim, queridos, ocorre-me que o nosso entusiasmo tem um quê — ou muitos “quês” — de absurdo e até de melancólico. Vivemos dias em que uma juíza se expressando em defesa da lei e dos fundamentos da Constituição da República Federativa do Brasil nos conduz ao aplauso. Isso significa que algo em nós está a dizer que Márcia Mathey Loureiro pode estar mais para a exceção do que para a regra.
Não creio que já tenhamos chegado a esse ponto. Ainda há muitos juízes em Berlim, sim. Infelizmente, são poucos os que não temem a patrulha e deixam clara a sua subordinação ao aparato legal do país — um país que é, afinal de contas, uma democracia.
Entusiasmamo-nos tanto com a meritíssima porque, não faz tempo, vimos uma tal Associação de Juízes Pela Democracia (como se pudesse haver uma “pela ditadura”…) a sustentar, numa nota, que há, sim, homens que estão acima da lei. Segundo os valentes, estão nessa condição aqueles que lutam pela justiça social. Entende-se, pois, que, estando um “herói” da causa acima dos limites legais, rigorosamente tudo lhe é permitido.
Ah, social! Quantos crimes se cometem em seu nome!!!