Lula contra os ricos
Por Adriana Küchler, na Folha:O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou ontem os países do Mercosul a discutir urgentemente a questão da alta mundial dos alimentos para que não sejam culpados “por uma crise que não é nossa”.“Se não começarmos a discutir essas coisas enquanto temos tempo, eles vão jogar outra vez -por todos […]
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou ontem os países do Mercosul a discutir urgentemente a questão da alta mundial dos alimentos para que não sejam culpados “por uma crise que não é nossa”.
“Se não começarmos a discutir essas coisas enquanto temos tempo, eles vão jogar outra vez -por todos os discursos que estamos vendo- a crise da inflação e a crise dos alimentos nas custas dos países pobres.”
O anúncio foi feito ontem na 35ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, em San Miguel de Tucumán, na Argentina, durante o discurso em que Lula assumiu a presidência temporária do bloco.
Lula prometeu criar grupo de estudos para discutir o tema e preparar documento “para que haja um enfrentamento internacional” sobre o tema. “Não temos o direito de permitir que sejamos tratados como coadjuvantes num assunto em que somos os artistas principais.”
Lula afirmou que a crise imobiliária americana envolveu muitos bancos europeus, e “o FMI não deu um único palpite de como os americanos devem consertar a sua economia, em função da especulação”.
“Mas, logo, haverá muitos países [da América do Sul] recebendo missão do FMI dizendo que têm que fazer um ajuste fiscal pesado, que precisam fazer contenção de despesas, e nós já conhecemos o resultado final dessa história.”
Segundo o presidente, é preciso investigar dois temas que dizem respeito aos países do Mercosul: o preço no mercado futuro de alimentos e o do petróleo. “Uma especulação no mercado futuro permite que um produtor de milho ou de soja possa vender a sua produção de três anos sem ter produzido, e o que pode ser grave é que o preço no mercado futuro precifica o preço no presente.”
Sobre o valor do petróleo, afirmou que notícias relataram que o mercado futuro do produto tem o mesmo estoque que consome a China. “Então, não temos apenas uma China, temos duas Chinas: uma que utiliza o petróleo e outra que especula com a mesma quantidade da China.”