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CUTUCANDO A TEORIA COM VARA CURTA

Um leitor metido a ser um grande “realista” em política — ele diz se orgulhar de ser mais admirador e conhecedor do capitalismo do que eu e até mais “direitista” (!!!) do que eu — ironiza a minha opinião sobre o possível ingresso da Venezuela no Mercosul. Huuummm… Deve ser também mais bonito, charmoso e […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 16h31 - Publicado em 3 nov 2009, 04h35

Um leitor metido a ser um grande “realista” em política — ele diz se orgulhar de ser mais admirador e conhecedor do capitalismo do que eu e até mais “direitista” (!!!) do que eu — ironiza a minha opinião sobre o possível ingresso da Venezuela no Mercosul. Huuummm… Deve ser também mais bonito, charmoso e cabeludo. Imagino como esse rapaz gostava de competições quando moleque. Deve ter perdido alguma importante, sentiu-se humilhado, e não parou mais de dizer vida afora: “Eu sou mais isso, eu sou mais aquilo…” O fato é que, tudo indica, perdeu a única disputa que gostaria de ter ganhado realmente. Aí ficou assim. Mas saiamos um pouco da psicologia de rua — ou dos becos — para o que importa. Ele voltou a se dizer mais iluminado do que eu no caso da entrada (ou não) da Venezuela no Mercosul. Como sabem, a maioria governista da Comissão de Relações Exteriores do Senado votou a favor da entrada do país no bloco. O texto será votado agora pelo plenário do Senado.

“Aí, Reinaldinho (ele me chama no diminutivo porque a esperança, aquela infantil, é a última que morre; terei sido muito sutil???), as empreiteiras querem a Venezuela no Mercosul porque elas tem ‘ne-gó-cios’; e capitalismo é ‘ne-gó-cios’”. “São”!!! Ele ainda não aprendeu que, às vezes, o verbo concorda com o predicativo do sujeito. E imagina que, se escandir sílabas, consegue preencher aquele intervalo com algum conteúdo superiormente interessante, mesmo sem dizer o que é. Eu poderia dizer coisas elegantes como: “Seu insensato!” Mas também não posso passar certas vontades, não é? Então digo: “Seu asno!”.

Eu estou pouco me lixando para o que digam ou pensem as empreiteiras. No meu mundo, elas existem e trabalham livremente, obedecendo a legislação de uma sociedade aberta, mas não decidem em lugar do governo, entendeu? Se a empreiteira A, O ou Z quer a grana do Chávez e pretendem ampliar seus horizontes (!) na Venezuela, eu não me obrigo a considerar que o que é bom para as empreiteiras é necessariamente bom para a democracia.

Se empreiteiro fosse exemplo de pensamento político, o Minhocão seria Maquiavel.

A questão, de todo modo, me lembrou uma passagem da grande Ayn Rand no ensaio “America’s Persecuted Minority: Big Business”, no livro “Capitalism: The Unknown Ideal”: “Os homens de negócios são o único grupo que distingue o capitalismo e o ‘American way of life’ do estatismo totalitário que engole o resto do mundo. Todos os outros grupos sociais trabalhadores, fazendeiros, profissionais médios, cientistas, soldados existem sob ditaduras; podem mesmo existir nos grilhões, no terror, na miséria, em progressiva autodestruição. Mas não há nada parecido como um grupo de homens de negócios numa ditadura. Seu lugar é tomado por assassinos armados, por burocratas e comissários. Homens se negócios são o símbolo da sociedade livre o símbolo da América. Se e quando eles perecerem, a sociedade perecerá”.

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Ayn Rand ia mais longe. Segundo ela, quem queria lutar pela liberdade deveria lutar justamente contra o desprestígio e a falta de reconhecimento a que estavam submetidos os homens de negócios. O ensaio é de 1961. Os tempos, sem dúvida, mudaram um tantinho. A essência do que ela diz está correta. Mas já sabemos que a questão não pode mais ser posta em termos tão puros. A China prova que o capitalismo pode sobreviver — e, querem alguns, muito bem — numa tirania, na vigência plena do “estatismo totalitário”. Alguns bobos vão lembrar ditaduras latino-americanas “capitalistas” como evidência que contestava a autora. É bobagem porque ela está se referindo, está claro, a “estatismo totalitário”. As tais ditaduras, por mais odiosas que tenham sido (e foram), eram sistemas provisórios. Ela fala, naqueles anos, de um regime que se pretendia eterno e que ambicionava dominar o mundo. A defesa da livre iniciativa era um campo de batalha ideológico e político que era sinônimo de luta pela liberdade.

Se alguém intuir que o empresariado, hoje em dia, o brasileiro em particular, anda um tanto desinteressado do debate político fora do mundo dos “ne-gó-cios”, estará intuindo bem. Eu diria mesmo que a democracia é assunto sério demais para ser deixado apenas por conta dos chamados “homens de negócios”, alguns deles, numa derivação teratológica muito nossa, mal se distinguem do próprio estado, que os financia. E eles, por sua vez, financiam os “homens de estado”.

Nesse particular sentido, os petistas, por exemplo, são bem mais espertos do que o “sócio” que querem no Mercosul: Chávez. O Bandoleiro de Caracas ainda não percebeu a existência de certas forças superiores a que certos homens de negócios jamais resistem: uma ajudinha do cartório estatal, por exemplo.Lula entendeu isso muito bem e se tornou mestre neste jogo da barganha. Alguns dos nossos “empreendedores” dizem sem corar: “Sou apenas um homem de negócios; os assuntos da política não me interessam”.

No artigo que publicou no domingo, no Estadão (ver post abaixo), FHC abordou o condomínio de forças que hoje sustenta o governo Lula. E o capital está ali presente de maneira clara, insofismável. Este escriba é certamente muito mais pobre (e como!!!, hehe…) do que alguns potentados que hoje espalhariam estátuas de Lula país afora. E o fariam dizendo: “Este, sim, é amigo do capital e dos empresários”. Ocorre que eu não o considero, assim, um grande entusiasta da democracia. E não vou perguntar, antes, a empreiteiros, banqueiros, grandes industriais e afins o que é que eles andam pensando sobre negócios & democracia para, depois, dar a minha opinião. Os petistas é que dependem desses juízos.

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Defendo aqueles homens de negócios de que fala Ayn Rand, que têm compromisso com o regime de liberdades, porque sei que esse regime inexiste onde as forças produtivas estejam submetidas à tirania do Estado. Mas elas, por si mesmas, não são garantia de nada. PORQUE É PRECISO QUE FIQUE CLARO QUE PODE HAVER, SIM, ECONOMIA DE MERCADO NUMA SOCIEDADE QUE NÃO É DE MERCADO. A China, reitero, tão admirada pelos petistas, é hoje o exemplo máximo desse modelo.

Se empreiteira fosse teoria política, o Empire State Building seria mais importante do que A Democracia na América. E ele não é.

Fui claro?

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